“Enfim, alguém à minha altura
Enfim, alguém à minha baixaria” Agatha Almeida
Pijama
Vesti um samba canção
A fim de escrever um soneto.
Não deu certo fui de lingerie
Para compor uma balada sangrenta.
Já de lycra combinei um listrado
Mas foi grande o meu constrangimento.
O pijama dos poetas
é uma cueca e um sutiã de renda.
Kafka
O lagarto vira borboleta
Desde muito antes do bisturi
O casulo dá na natureza
O que a cirurgia dá aqui
Silicone, peito, bunda, sexo,
Muda até a cor do faquir
O que era espelho vira reflexo
E o que era certo já não é bem assim
Bem, nessa história de metamorfose,
Eis que o inseto humano
(Buda, hindu, asceta),
Aprende a existir.
Impelindo o Inquilino o Inquisidor
Chegou à seguinte conclusão:
u o I e a
A E i O U
No meio de tudo:
r I r
Brega
Deus sopra as palavras em teu ouvido,
e esbarra outras em meu cotovelo.
Se o mundo é brega, quê que eu faço?
Submundos, meus colegas!
Eu gosto de ficar por baixo.
Ih deu zebra…
Zebra
Só dá azar
No jogo dos homens
Porque na natureza
Sorte
É nascer listrado
Pelo de cavalo
Até o leão concorda.
Tinha a faca e o queijo na mão
Quando enfiou o pé na jaca
Poemas de Raphael Vidigal.
Ilustrações, feitas especialmente para essa coluna, por Cristiano Bistene.