Caderno H2O – 03/06/2016

“Enfim, alguém à minha altura
Enfim, alguém à minha baixaria” Agatha Almeida

Pijama2

Pijama
Vesti um samba canção
A fim de escrever um soneto.
Não deu certo fui de lingerie
Para compor uma balada sangrenta.
Já de lycra combinei um listrado
Mas foi grande o meu constrangimento.
O pijama dos poetas
é uma cueca e um sutiã de renda.

Kafka
O lagarto vira borboleta
Desde muito antes do bisturi
O casulo dá na natureza
O que a cirurgia dá aqui
Silicone, peito, bunda, sexo,
Muda até a cor do faquir
O que era espelho vira reflexo
E o que era certo já não é bem assim
Bem, nessa história de metamorfose,
Eis que o inseto humano
(Buda, hindu, asceta),
Aprende a existir.

I
Impelindo o Inquilino o Inquisidor
Chegou à seguinte conclusão:
u o I e a
A E i O U
No meio de tudo:
r I r

Brega
Deus sopra as palavras em teu ouvido,
e esbarra outras em meu cotovelo.

Se o mundo é brega, quê que eu faço?
Submundos, meus colegas!
Eu gosto de ficar por baixo.

Ih deu zebra…
Zebra
Só dá azar
No jogo dos homens
Porque na natureza
Sorte
É nascer listrado
Pelo de cavalo
Até o leão concorda.

Azares
Tinha a faca e o queijo na mão
Quando enfiou o pé na jaca
Jaca2

Poemas de Raphael Vidigal.

Ilustrações, feitas especialmente para essa coluna, por Cristiano Bistene.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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