“Tão meigo e discreto é seu tom;
Mas quer sua voz ralhe ou agrade,
Tem riqueza e profundidade:
É o seu segredo e sedução.” Charles Baudelaire
Yoná Magalhães nunca foi atriz de arroubos sonoros e gestos eloqüentes. Primeira “mocinha” de novelas da Rede Globo se consolidou, antes, pelo recato e comedimento buscados por João Cabral de Melo Neto no poema e Stendhal na filosofia. Com suas atuações, principalmente em novelas, Yoná deu grandeza à discrição, quer desempenhasse papel de protagonista ou de coadjuvante.
De tal maneira que seus silêncios falavam mais que os assaltos de giros e piruetas de alguns colegas. Yoná não passava despercebida, talvez pela gentileza e precisão com que era capaz de pontuar as falas e transições. Antítese do modelo histérico e impositivo de outras mulheres foi convidada para posar nua na revista Playboy aos 50 anos de idade, comprovando o charme ainda em dia.
O contraponto a esse estilo foi justamente quando interpretou seu maior papel no cinema. Nas mãos do verborrágico Glauber Rocha, Yoná compôs uma Rosa de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” tão desesperada quanto o discurso do cineasta baiano. Provas de que era atriz de recursos, e que apenas preferiu traçar um caminho mais contido, mas nem por isso menos fundamental na nossa dramaturgia.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo e Divulgação.