“O samba é meu dom…
Aprendi bater samba ao compasso do meu coração,
De quadra, de enredo, de roda, na palma da mão,
De breque, de partido-alto e o samba-canção…” Paulo César Pinheiro & Wilson das Neves
Wilson das Neves é a prova viva de que a música não tem tempo. E isso para um instrumentista de origem, sobretudo um baterista, seria quase uma heresia. No entanto, a música não tem limite, quanto mais o som sagrado de Das Neves, carioca da gema, nascido e criado nas praias, becos e entre bambas do Rio de Janeiro. É certo que ele já era notado quando tocava com gente como Elis Regina, Elizeth Cardoso, Roberto Carlos, Elza Soares, Wilson Simonal, Maria Alcina, coisa que não é pouca. Mas foi ao lado do parceiro definitivo e mais repetido nos últimos anos que Wilson tomou a coragem necessária para exibir outra verve e abandonar de vez a irrefutável modéstia. Encorajado por Paulo César Pinheiro e o dito cujo citado linhas acima, de alcunha Chico Buarque de Hollanda, Wilson assumiu em alto e bom som: tenho voz! Escrevo e canto, e, acima de tudo, dou vazão aos sentimentos. E que som ele ofereceu.
Ô sorte daqueles que têm acesso ao pequeno frasco de magia presente nas baquetas de Wilson das Neves, que se estende para as melodias cheias de frescor, calcadas no samba que aprendeu nas esquinas da sua mocidade, com repiques da bossa nova, molejos do jazz, e tudo quanto caiba neste caldeirão profícuo e profundo onde a música brasileira borbulha. Sem distinções entre erudita e popular, clássica e contemporânea, baixa ou alta, larga ou miúda, a escala da canção de Das Neves alcança o coração. E tens aí um artista de verdade. Um artista de seu povo, de Chico Buarque, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Maria Alcina, Simonal, Roberto Carlos, Elis Regina, Paulo César Pinheiro, Zé Trambique, Noel Rosa, Luiz Carlos da Vila, Aldir Blanc, Nei Lopes, Moacyr Luz – que acompanha sempre o ritmo do tempo ilimitado. Felizes os que têm calor, pois deles será o reino da música sagrada de Wilson das Neves.
Raphael Vidigal
Fotos: Daryan Dornelles; e Divulgação, respectivamente.