*por Diana Vidigal (blogueira e amante de cinema)
“Música e vida: ambas precisam do tempo para ser. E ambas, por causa da vida e do tempo, têm de morrer. Sempre chegam a um fim. Sempre terminam em silêncio.” Rubem Alves
No dia 10 de novembro de 1928, nascia em Roma um dos maiores compositores de todos os tempos, que faria história e seria eternizado nas telonas de Hollywood. Talento precoce, começou a compor aos 6 anos de idade. E, na última segunda-feira, dia 06 de julho de 2020, nos despedimos dessa lenda do cinema.
O ilustre italiano, que além de compositor era arranjador e maestro, faleceu aos 91 anos, após ser internado por uma fratura no fêmur e sua partida, assim como toda a sua obra, foi repleta de sentimento – imagina que ele já deixou seu obituário prontinho com o advogado, para ter certeza de que tudo saísse perfeito, do jeito dele e, claro, para não “dar trabalho” aos familiares (é fofo mesmo, não é?!).
Mas quem foi Ennio Morricone?
Ennio Morricone compôs mais de 400 partituras para cinema e televisão, além de mais de 100 obras clássicas. Talentoso que só, foi responsável por trilhas inesquecíveis, verdadeiramente memoráveis e icônicas.
Você, com certeza, já ouviu alguma música criada por Morricone. Especialmente se for fã dos antigos Western Spaghetti (aqueles tradicionais faroestes norte-americanos), mas, se costuma navegar pela internet, algum meme já deve ter visto. Se, ainda assim, nada lhe vem à mente, veja a cena a seguir:
Essa é uma das passagens mais famosas, da trilha feita exclusivamente para o filme “Três Homens em Conflito” (The Good, the Bad and the Ugly, 1966), estrelado por Clint Eastwood e dirigido por Sergio Leone, seu compatriota.
Sua marca no cinema
“Três Homens em Conflito” não foi a única parceria com Sergio Leone. Em toda a sua carreira, o compositor criou as trilhas de todos os filmes do diretor italiano desde “Por um Punhado de Dólares” (A Fistful of Dollars, 1964), totalizando mais de 70 títulos. Também foi responsável pelas trilhas dos filmes de Giuseppe Tornatore a partir de “Cinema Paradiso” (Nuovo Cinema Paradiso, 1988). Este último, por sinal, é um longa-metragem obrigatório para todos aqueles que se dizem amantes da 7ª arte.
“Era Uma Vez na América” (Once Upon a Time in America, 1984), outro de Leone, é uma homenagem aberta ao clássico “Era Uma Vez no Oeste” (Once Upon a Time in the West, 1968 – outra parceria entre os dois), conquistando seu próprio lugar de destaque entre as obras-primas do cinema.
Outras trilhas que também marcaram para sempre o mundo cinematográfico foram as de “Os Intocáveis” (The Untouchables, 1987), de Brian de Palma, e um dos mais recentes filmes de Quentin Tarantino, “Os Oito Odiados” (The Hateful Eight, 2016). Inclusive, neste último, pela primeira vez na carreira, Morricone faturou o Oscar de melhor trilha original.
Menção honrosa à homenagem no filme de ação “Os Mercenários 2” (The Expendables 2, 2012), dirigido por Simon West e com um elenco estrelado pelos maiores badasses do cinema. Cuidado com o spoiler! Em uma cena tensa, Chuck Norris aparece sozinho, equipado com duas armas pesadas, e salva os companheiros do extremo perigo. Tudo isso ao som da trilha de “Três Homens em Conflito”.
Sua identidade musical
Seu método de criação era puramente mental, contando apenas com um papel e uma caneta, e deixando de lado os instrumentos musicais num primeiro momento, apenas visualizando a combinação de sons e notas. Que o cara era talentoso, ficou claro né?! Mas outra informação curiosa é que ele era capaz de criar a música ideal apenas lendo o roteiro.
Por ter essa sensibilidade musical muito aguçada, é possível ver como suas melodias são capazes de direcionar toda a atmosfera na cena, estando sempre em perfeita sintonia com a direção, a fotografia e o roteiro.
Suas trilhas são sempre marcantes, sendo praticamente outro personagem nos filmes. Com um estilo único e bem característico, ao ouvir as primeiras notas é possível identificar, de cara, que se trata de uma composição/arranjo de Ennio Morricone.
Curiosidade
Ennio Morricone se dizia um grande fã da música brasileira e tangibilizou todo esse amor quando escreveu os arranjos do disco “Per un Pugno di Samba”, lançado em 1970, e cantado por Chico Buarque em italiano.
Uma coisa é certa, essa figura singular e extremamente talentosa deixará saudades. Felizmente, podemos confortar nossos corações ouvindo as suas impecáveis trilhas, ao vislumbrar grandes clássicos do cinema.
Fotos: AFP/Divulgação.