Crítica: “Chacrinha, o Musical” diverte, mas não avança na história do protagonista

“Cada produto da fantasia, cada criação da arte deve, para existir, levar em si o seu próprio drama, isto é, o drama do qual e pelo qual é personagem. O drama é a razão de ser da personagem. É sua função vital, necessária para que ela possa existir.” Luigi Pirandello

Chacrinha, o Musical, com Stepan Nercessian

De volta aos palcos para celebrar o centenário de nascimento de Abelardo Barbosa, o espetáculo “Chacrinha, o Musical” deixa claro, desde o princípio, quais são os motivos do seu sucesso: ele está ali para divertir, e investe pesado em atrações que tragam riso e leveza ao público, tal como o protagonista homenageado, que imortalizou bordões do tipo: “eu não vim para explicar, vim para confundir”. Essa noção de que o que interessava a Chacrinha era a fantasia, e a ideia de que ele constituía sua personagem, sobretudo, no palhaço, é a responsável por um dos grandes trunfos da montagem. Logo na abertura, o cenário inspirado por cordéis pernambucanos (terra de nascimento do apresentador, natural de Surubim) sustém sobre a cena uma aura mágica, possibilitando ao espectador, justamente, fugir da realidade tacanha, obsoleta e pragmática a que a mera objetividade o relega. Cada núcleo de artistas que sobe ao palco – este disposto para reconstituir o esquema de auditório consagrado por Chacrinha – envolve a cena com coreografias bem ensaiadas, mas que em determinado ponto ficam monótonas.

Outro aspecto do caráter desta figura símbolo dos circos pelo mundo afora – e cuja tradição no Brasil também é das mais ricas – no entanto, acaba pouco explorado. Em pequenas doses e a partir de cenas que servem apenas como respiro à dramaturgia pautada nos números musicais, expõe-se a tendência maníaco-depressiva que acompanhava Chacrinha, sua obsessão pelo sucesso e o vazio a que esta conquista o abandonava. Fato é que se avança pouco na história da personagem, por assim dizer, “real”, a do Abelardo despido de suas fantasias de palhaço, já que o próprio preferiu se esconder nesta “outra personagem”. O exotismo e a exuberância que Chacrinha desfilava na TV (e antes mesmo, no rádio, em programas tão visuais quanto barulhentos mesmo), era uma espécie de máscara, através da qual pouco se acessava da pessoa de carne e osso. Além da performance exemplar de Stepan Nercessian no papel-título, merece destaque a transfiguração de Laura Carolinah em Elke Maravilha e a versatilidade do excelente Diego Campagnolli, que vai de Dercy Gonçalves ao assistente Russo. As intérpretes das chacretes também dão o seu show à parte.

Ficha técnica
“Chacrinha, o Musical”, com Stepan Nercessian, Laura Carolinah, Diego Campagnolli, Thiago Marinho, Ana Elisa Schumacher, Jullie e outros.
Direção: Andrucha Waddington
Texto: Pedro Bial e Rodrigo Nogueira
Direção musical e arranjos: Delia Fischer
Direção de arte e cenografia: Gringo Cardia
Figurino: Claudia Kopke
Iluminação: Paulo César Medeiros

Serviço
De sábado (4/11) a domingo (5/11)
Quando: sábado, às 16h30 e 21h; domingo, às 16h
Onde: Cine Theatro Brasil Vallourec (av. Amazonas, 315, centro)
Quanto: R$ 100 (inteira); e R$ 50 (meia)

Chacretes no musical sobre Chacrinha

Raphael Vidigal

Fotos: Robert Schwenck/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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