“Tem que lutar, não se abater
Só se entregar a quem te merecer
Não estou dando nem vendendo
Como o ditado diz
O meu conselho é pra te ver feliz” Adilson Bispo & Zé Roberto
Ironicamente Almir Guineto jamais registrou em disco o seu maior sucesso como compositor, “Coisinha do Pai”, lançada por Beth Carvalho e regravada com igual êxito por um dos parceiros na criação, Jorge Aragão. Por outro lado, uma das músicas mais lembradas na voz de Guineto não foi escrita por ele. “Conselho”, dos versos “deixe de lado esse baixo astral/erga a cabeça, enfrente o mal/que agindo assim será vital para o seu coração”, é uma obra de Adilson Bispo e Zé Roberto. O que apenas revela a coesão da identidade artística e social do sambista, quase que unicamente ligado e preocupado com a sua gente e as questões relativas a ela, dando nenhuma ‘pelota’ para o que vinha de fora. Tanto que desprezou um fã ilustre, quando Mano Brown, vocalista do grupo de rap Racionais MC’s, assumiu a sua idolatria. O comportamento autossuficiente de Almir Guineto era também a sua resistência.
Almir Guineto fundou o conjunto Fundo de Quintal ao lado de Aragão, Bira, Neoci, Sereno, Sombrinha e Ubirany no início de 1980 e saiu logo após a gravação do primeiro LP, um ano depois. Sua identificação com o estilo de samba formatado nas rodas do Cacique de Ramos, que ficaram conhecidas como pagode – a união de música, comes & bebes e muita festa – era tamanha que mesmo após essa breve passagem com a banda pelo mercado fonográfico, ficou associado a esta nova fase do gênero até o fim da carreira. Justamente porque a vontade de empreender uma carreira solitária não o desprendeu de suas raízes. São incontáveis os encontros proveitosos com Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Mauro Diniz, Sombrinha, Jorge Aragão e toda a legião de bambas que, em suma, cantava com esperança as agruras amorosas e os percalços cotidianos sofridos na pele. Guineto tomou partido de sua gente.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo e Divulgação.