*por Raphael Vidigal Aroeira
“Ainda ontem chorei de saudade…
Relendo a carta e sentindo o perfume…
O que fazer com essa dor que me invade?
Mato esse amor ou me mata o ciúme…” Moacyr Franco
“Saio da montanha, mas a montanha não sai de mim” é um ditado inventado que poderia facilmente ser atribuído a Moacyr Franco. Embora tenha deixado Ituiutaba, no interior das Minas Gerais, há uns bons tempos, o artista jamais se furtou de carregar certo semblante típico dessas paragens. E isto para quem se especializou em desenvolver mais de uma atividade artística, como se todas formassem os “cinco dedos da mesma mão”, parodiando Jô Soares. Franco surgiu como ator, explodiu como cantor, assentou a carreira de compositor, arriscou-se na apresentação e traçou até passos sérios, como político filiado a diversos partidos.
Para as duas condições que mais exercitou, entre a música e a dramaturgia, alcançou sucesso através de características díspares, sendo motivo de riso numa e oferecendo sensações para o choro noutra. Pura arte. Moacyr é contemporâneo da época de ouro do rádio no Brasil, e certamente influenciado por essa vertente levou os ensinamentos aprendidos tanto para a televisão quanto a música. Discípulo do bordão, da marca, da canção narrada.
Interpretou o personagem mendigo na histórica “A Praça da Alegria”, transformada hoje em “A Praça É Nossa”, onde ainda atua na pele do “Jeca Gay”, outra invenção de enorme adesão popular. Foi com esta inaugural figura que Moacyr obteve seu primeiro êxito musical de largo alcance, aparecendo em mais de uma chanchada para entoar os versos de “Me dá um dinheiro aí”, marchinha icônica de 1960, composta pelo trio Homero, Ivan e Glauco Ferreira. Mas Moacyr também escreveu sucessos de próprio punho, ou quase, ao elaborar a versão da “Balada para um Louco”, de Piazzolla, então pouco reconhecido no Brasil.
Ao cantar quase sempre trazia a influência grave do bolero, e derramava-se em voz suave, porém carregada. E foi – também nesta seara – regional, sertanejo, autor, por exemplo, de “Ainda ontem chorei de saudade”. Tradicionalista, estreou no cinema em 2011, no filme “O Palhaço”, dirigido por Selton Mello, e saiu premiado como melhor ator coadjuvante por uma cena de três minutos. Provas de que entre o riso e o choro, o começo e o fim, o quintal e o mundo, existem poucas diferenças pra quem é de arte.
Sucessos. Moacyr Franco nasceu em Ituiutaba, interior de Minas, no dia 5 de outubro de 1936. Ator, cantor, compositor, comediante e apresentador de TV, Moacyr Franco transita por vários gêneros musicais. O seu primeiro sucesso na música foi com a marchinha “Me Dá Um Dinheiro Aí”, em 1959. Outro êxito desse período foi a balada romântica “Eu Nunca Mais Vou Te Esquecer”, que ganhou diversas regravações. Na década de 1980, Moacyr passou a investir na música sertaneja, obtendo prestígio com músicas como “Ainda Ontem Chorei de Saudade”, que virou um clássico, e “Seu Amor Ainda É Tudo”. Ambas receberam versões de nomes como Michel Teló, Zezé Di Camargo & Luciano, Bruno & Marrone, Paula Fernandes, Chitãozinho & Xororó e Agnaldo Timóteo.
“Me Dá Um Dinheiro Aí” (marchinha, 1959) – Homero, Ivan e Glauco Ferreira
Da união do humor com a música brasileira surgiu uma das mais valorosas peças do nosso repertório. O cancioneiro carnavalesco não foi o mesmo depois de “Me dá um dinheiro aí”, parceria dos irmãos Homero, Ivan e Glauco Ferreira. Outro personagem de fundamental importância nesse sucesso foi o intérprete da canção, Moacyr Franco que, além de cantor, atuava no programa “A Praça da Alegria”, ascendente de “A Praça é Nossa”, no papel do mendigo que eternizou o bordão usado no refrão da música. Posteriormente a música seguiria sendo regravada. O motivo é simples de explicar. Além da qualidade da melodia quem é que não quer pedir um dinheiro aí? Difícil é encontrar quem queira dar.
“Balada Número 7: Mané Garrincha” (balada, 1971) – Alberto Luiz
Garrincha pendurou as chuteiras em 1972, ao defender o seu último clube profissional, o Olaria. O “Anjo Das Pernas Tortas” inebriou durante décadas os corações brasileiros, com jogadas geniais e impensadas, zombeteiras, lúdicas. Bicampeão do Mundo com a Seleção Brasileira em 1958 e 1962, ele foi considerado o melhor jogador da Copa no Chile, principalmente após a contusão de Pelé. A música “Balada Número 7: Mané Garrincha” foi composta em alusão ao número histórico usado às costas pelo ídolo. No ritmo e na letra Alberto Luiz destrincha a trajetória irregular e dramática, principalmente nos últimos anos, do jogador, que entre glórias, dribles e alegrias, acabou sucumbindo ao alcoolismo. Mas a irreverência de Garrincha é sem dúvida a sua contribuição mais eterna e mais bonita na história brasileira. A canção é cantada, emotivamente, por Moacyr Franco.