“É preciso ir além da moral!” Eugène Ionesco
Laerte é sinônimo de liberdade. Sempre foi, desde que começou a publicar seus quadrinhos e cartuns na década de 1970, e confirmou com veemência essa característica ao assumir a transexualidade. Mais do que liberdade, passou a ser sinônimo de libertação. Com contribuições pontuais para a televisão, sempre no gênero de humor e sempre como roteirista, como nos casos da “TV Pirata” e do “Sai de Baixo”, ganhou em 2015 a oportunidade dada pelo Canal Brasil, emissora a cabo vinculada à TV Globo, de apresentar seu próprio programa. “Transando com Laerte”, que vai ao ar na madrugada de terças-feiras a partir da meia noite, estabelece temas e recebe convidados que debatem acerca dos acontecimentos mais relevantes da atualidade com a, agora, apresentadora.
No campo do conteúdo, portanto, a vocação libertária permanece, já que Laerte e aqueles escolhidos para a conversa, tais como Zé Celso Martinez Corrêa, Marcelo Tas, Rogéria, Matheus Nachtergaele, Xico Sá, Marisa Orth, Angeli, Cida Moreira e outros representam e oferecem uma perspectiva moderna, contemporânea, liberal e impetuosa a respeito de todos os tabus e polêmicas vigentes na nossa sociedade ainda rançosa de muitos vícios conservadores. A estrutura, porém, ao contrário, acaba previsível, ao limitar os assuntos e manter uma ordem que nunca se altera, entre palavras e desenhos de outros, em geral, dois convidados, que comungam suas artes. É, portanto, da boca, do conteúdo, e não da estética, da forma, que se preparam as maiores surpresas e virtudes deste programa tão relevante para os dias atuais.
Raphael Vidigal
Fotos: Aline Arruda; e Divulgação, respectivamente.