“Creio que é de água a raiz do vento,
Pois não soaria tão profundo
Se produzido pelo firmamento;
Os ares não contêm oceanos
Ou entonações mediterrâneas –
Mas, para o ouvido da corrente,
Há uma convicção marítima
Na atmosfera, por dentro” Emily Dickinson
Rogério Leonel não nasceu ontem, já está na estrada há algum tempo. Para ser exato contabiliza quase meio século de carreira ligada à música. Um desses momentos cruciais aconteceu quando o violonista e compositor escreveu, no final da década de 1970, seus primeiros arranjos para o “Festival Ponteio”, promovido pela UFMG. Daí por diante não abandonou mais o ofício, e dedicou especial atenção aos arranjos para vozes. Trabalho que recebe agora a devida documentação e registro com o lançamento do livro “Harmonia das Vozes”, em que Leonel debruça-se sobre 20 canções de compositores mineiros. O projeto contou com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.
Dentre as músicas acompanhadas pelas partituras de Rogério destacam-se algumas de domínio público, como “Cálix Bento”, recolhida por Tavinho Moura e eternizada na interpretação de Milton Nascimento. Canções conhecidas do grande público, a exemplo de “Milagre dos Peixes”, de Milton e Fernando Brant, e “Criaturas da Noite”, de Flávio Venturini e Luiz Carlos Sá, revezam-se com pérolas pescadas com esmero pelo autor, são os casos de “Rio Araguaia”, de Ricardo Faria e Toninho Camargos, “Navio de Pedra”, de Ladston Nascimento, “Riacho de Areia”, também de domínio público, e “Água de Moringa”, de Valter Braga e Jorge Fernando dos Santos, e que recebeu a interpretação primorosa de Lígia Jacques, esposa de Rogério, numa demonstração que o afeto contribui para as obras de arte.
Aliás, o livro recebe os elogios de Toninho Horta, Toninho Camargos e Ezequiel Lima, além de textos sobre as canções a cargo de Jorge Fernando dos Santos. Cumpre dizer que vale a pena o Brasil seguir o conselho de Guinga, e reconhecer mais Rogério Leonel e seus arranjos. “Harmonia das Vozes” valoriza a música das Gerais.
Raphael Vidigal
Fotos: Divulgação; e Bárbara Suyan, respectivamente.