“Para sobreviver é preciso contar histórias.” Umberto Eco
Umberto Eco pegou o tempo em que era possível, com enorme arcabouço crítico e teórico, ser muito popular. Algo parecido com o que Caetano Veloso, Gilberto Gil e os tropicalistas experimentaram no Brasil na década de 1970. Caminhos que para a literatura, em qualquer parte do mundo, em geral, sempre foram muito mais difíceis do que para a música. Um exemplo claro é a citação ao queridinho das academias num dos romances mais célebres do italiano, “O Pêndulo de Focault”. Eco, também, desfrutou de prestígio incomum junto aos acadêmicos durante a maior parte de sua trajetória. E vendeu mais de um milhão de livros com seu romance “O Nome da Rosa”, traduzido para 43 idiomas, dentre eles, o português. Esses não foram os únicos feitos do filósofo.
Natural da Alexandria, província com cerca de 80 mil habitantes às margens do Rio Tanaro, Umberto soube costurar, com rara sensibilidade e uma aguda perspicácia, tanto forma quanto conteúdo, sem se embotar das pretensões que comumente embranquecem os ensaios, mantendo o sentimento intacto e léguas à frente do mero derramamento de sangue e emoções pueris. Com olhar crítico, Eco buscou compreender a existência em sua complexidade, nas mais diferentes manifestações e tocou em temas controversos e espinhosos, com a qualidade intrínseca da arte, a de provocar um olhar novo, que sobrepuja a reflexão viciada. Talvez, em sua época, somente José Saramago tenha atingido este resultado. Ambos falaram de seu tempo, e foram clássicos.
Raphael Vidigal
Fotos: Marek Tamm; e divulgação, respectivamente.