“Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.
Seus limites não transporia desmedida
Como estrela: pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.” Rilke
Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte até 11 de janeiro de 2016, a exposição “Arte da Nova Berlim” apresenta no título palavra alemã que significa “espírito de uma época”. São 29 os artistas do país com obras na mostra que, apesar dessa heterogeneidade é homogênea no discurso que rechaça o consumismo barato de tempos nem tão distantes, mas que já parecem fadados ao fracasso da espécie humana tanto no presente quanto no futuro próximo. As formas e moldes de abarcar essa ideia são múltiplas.
Esse provavelmente é o grande trunfo da exposição, que revela a diversidade e tolerância almejada pelas sociedades mais desenvolvidas em seu aspecto de direitos humanos e sociabilidade. O que é mostrado, em diferentes números, é que sem uma percepção igualitária das relações econômicas, essa perspectiva permanecerá utópica, dando mais combustível e munição para a arte. Num dos trabalhos de maior teor experimental, um vídeo demonstra a performance do artista que, com arco e flecha, caça em supermercados mantimentos como leite em caixa e carne congelada. Uma ironia que não deixa escapar o primitivismo de certas elaborações tidas como evolucionárias.
Em outro, fotografias captam, com beleza incomum e uma especial apropriação da luz, cenários em ruínas, onde o abandono, a desolação, o individualismo dos novos tempos que dita como palavra de ordem a “independência” em detrimento da “solidariedade” levam a um ambiente inóspito, hostil e solitário. Também desta margem, o artista dá lugar a pessoas que estampam no corpo a arte, através de tatuagens. Propagandas distribuídas em panfletos exibem o panorama confuso, insólito e absurdo de um mundo voltado para a compra e venda de valores. Numa provocativa apresentação de filmes destaca-se o característico expressionismo alemão em duas épocas distintas, em que o motivo do riso advém de uma trágica perspectiva, ou do ridículo.
Raphael Vidigal
Fotos: Carlos Henrique; e divulgação, respectivamente.