O Reino do Samba de Carlos Imperial

“E era o seu rosto, sim, que estava entre versos andróginos,
preso em círculos de ar, sobre um instante de festa!
Boca fechada sob flores venenosas,
e uma estrela de cinza na testa.” Cecília Meireles

carlos-imperial

O pilantra que se auto-glorificava, Carlos Imperial, era mestre para advogar elogios em causa própria. Seus pupilos foram sempre dignos de receberem “Dez, nota dez!”, bordão que ele inventou para o carnaval carioca e que espalhava aos borbotões, infiltrando-se nos espaços mais obscuros com as ferramentas mais suspeitas que um rei pode utilizar. Seu Império subiu à superfície na base de muita esperteza, pilantragem e tino para a coisa, como ele próprio sugeria. O que ficou para a posterioridade? A imagem mal afamada de um sujeito querido por suas composições, cheias de suingue e ritmo balanceado, e contestado pela exibição barata de sua cafajestagem.

Mamãe passou açúcar em mim (pilantragem, 1966) – Carlos Imperial
Sem vergonha de utilizar métodos artificiais para promover seus objetivos, o Gordo, apelido de Carlos Imperial por sua postura corpulenta e despachada no comando de seus programas de TV ou no cinema, teve fundamental importância na criação do chamado rock jovem na música brasileira, que mais tarde ele rebatizaria de “pilantragem”. Depois de tentar lançar sem sucesso o ícone da Jovem Guarda que viria a ser Roberto Carlos e de participar da produção do primeiro álbum de Elis Regina, posta para rivalizar com Celly Campelo, Imperial viu no mulato Wilson Simonal sua mina de ouro descoberta. Foi pensando nele que o apresentador, cantor e agitador cultural mais aplaudido e vaiado nos anos 60, compôs a convencida “Mamãe passou açúcar em mim”, em 1966:

“Eu era neném, não tinha talco
Mamãe passou açúcar em mim
Mamãe passou açúcar em mim”

Você passa, eu acho graça (samba, 1968) – Carlos Imperial e Ataulfo Alves
Se em suas tumultuadas presenças no jornalismo e na política, Imperial podia ser apontado por alguns como picareta, apresentando doses nada convencionais de escracho, no trato com a musicalidade ele cultivava soberba engenhosidade. Foi após ficar conhecido como grande referencial do rock solto da Jovem Guarda e da Pilantragem que ele se aventurou pelo prolífico campo do samba em homenagem a um desamor. Aparceirando-se com ninguém menos que o gentleman das palavras e melodias Ataulfo Alves ele se tornou co-autor da revigorante “Você passa, eu acho graça”, que em 1968 mandou um recado à flor que perdeu o encanto:

“E agora, você passa, eu acho graça
Nessa vida tudo passa, e você também passou
Entre as flores, você era a mais bela
Minha rosa amarela, que desfolhou, perdeu a cor”

carlos-imperial-samba

Raphael Vidigal

Lido na rádio Itatiaia por Acir Antão em 28/11/2010.

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6 Comentários

  • daquele jeitão que ele tinha guardava um coraçõa imenso clara gravou voce passa eu acho graça dele e a ataúlfo alves linda depois se evetrou outras vertentes

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  • “E agora, você passa, eu acho graça
    Nessa vida tudo passa, e você também passou
    Entre as flores, você era a mais bela
    Minha rosa amarela, que desfolhou, perdeu a cor”

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  • Não conhecia este senhor, embora conheça bem Voce passa… adoro esse samba, obrigada por ter contrubuido uma vez mais, para aumentar os meus parcos conhecimentos.

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  • Sempre. Gostei. Do Carlos. Imperial ,até. Qdo. Ele. Colocou A. PRAÇA. seu. Nome, (. Autor. Desconhecido )

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  • É DEZ, É DEZ, NOTA DEZ, esse era o bordão do menino galã, de Cachoeiro do Itapemirim, que descobriu muitos talentos pelo seu talento no meio da malandragem carioca.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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