“Podes caminhar na água?
Não fizeste mais do que uma palha
Podes voar no ar?
Não fizeste mais do que um mosquito
Conquista o TEU coração
– E pode ser que te
Tornes alguém” Abdullah Ansari
O homem que se casou com 27 mulheres ao mesmo tempo. O homem morto, vítima da AIDS, aos 58 anos, no longínquo 1997. Afirmações mentirosas. É o que estão dispostos a provar os seus súditos, que se reunirão no Granfinos na noite de quinta-feira para celebrar o carma e os gritos de Fela Kuti, inventor do afrobeat, de fato pantera negra, não gato, pois sete vidas seria uma quantidade insuficiente ante as dificuldades enfrentadas.
Isto porque milhares de corações, abusando do direito de proferir hipérboles, baterão como cônjuges, e ainda mais, amantes do ritmo ilimitado e político do compositor nascido num dia 15 de outubro de 1938, álibi para a proclamação do festejado “Fela Day”.
AFROBEAT
As garras dos tiranos, incontáveis inimigos de Estado, nunca foram capazes de eliminar o rugido alegre e soberano de Fela Kuti, um nigeriano que inspirou (e inspira) diversas manifestações de paz e música pelo mundo, quando da união do jazz com o funk e cânticos tradicionais africanos, a língua em uníssono que desbaratou barreiras.
Basta ver o corpo esguio de Fela Kuti se movimentar para se sobressaltar com o saxofone, o trompete, o teclado e a guitarra que são, na verdade, extensões das pernas, do cabelo, do tronco arisco do irrequieto músico.
LIBERDADE
É esta alegria e impossível dissociação entre instrumento e “instrumentor” (instrumentista + mentor) que os responsáveis por conduzir os cônegos da Abayomy Afrobeat Orquestra, formada por 13 talentos, cujo primeiro nome significa “encontro feliz”, terão o dever de mostrar.
Contarão com o apoio inestimável do guitarrista nigeriano Oghene Kologbo, que se apresentou ao lado de Fela na lendária banda Afrika 70, além da abertura dos cariocas da banda El Efecto e dos mineiros da Iconili fazendo as honras da casa, encerrando a noite com os DJs D’Aluandê e Ibrabamba.
Lenda, aliás, é palavra furtiva, fortuita, destaque na tentativa de entender o legado de um ser humano carregando tambores, não metafóricos, mas sonoros e pesados, da abolida liberdade. Esta tão procurada nos sonhos, conferindo à morte um subalterno papel.
Raphael Vidigal
Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 17/10/2012.
6 Comentários
OBRIGADO A TODOS QUE ESTÃO DIVULGANDO A ARTE DE FELA KUTI!
Adorooo!
Olhaaass… Boa!
Q legal…. Parabéns
Salve Fela Kuti! Obrigado pelos comentários.
Fala Raphael! Grande matéria!