Entrevista: Vander Lee e o grupo Dibigode homenageiam Ataulfo Alves

compositor mineiro Ataulfo Alves

*por Raphael Vidigal

“Leva meu samba, meu mensageiro, esse recado, para o meu amor primeiro” Ataulfo Alves

Esgueirando-se do jogo proposto pelo musicólogo Ary Vasconcelos, o músico e compositor Vander Lee é incapaz de sublinhar Ataulfo Alves em uma só palavra. Prefere três: cultura matuta mineira. E se estende prazerosamente: “É a impressão mineira ao samba, uma visão de mundo carregada de culpa, ligação familiar e anti-malandragem, típica da nossa Zona da Mata.”

O músico, que se apresenta hoje pelo Projeto Compositores.BR no Palco do Sesc Palladium, pretende esmiuçar o repertório de Ataulfo Alves a partir de canções clássicas que o tempo se encarregou de eternizar, como “Você passa, eu acho graça”, “Ai que saudades da Amélia”, e “Meus Tempos de Criança”.

Sobre o pioneiro espírito do compositor, retrata: “Ataulfo é, ainda hoje, um arquiteto importante para o samba. Ele explorou o campo harmônico com muita profundidade”, para em seguida resvalar na memória ainda intacta: “Lembro-me de meu pai tocando ´Meus Tempos de Criança´ em seu violão”.

A permanência de um ícone da canção popular como Ataulfo Alves é, de acordo com Vander Lee, atestada pelo culto das novas gerações ao músico: “Ele é referência obrigatória para quem quer saber como caminha nosso samba mineiro.”

ESSÊNCIA
Tiago Eiras, baterista do grupo mineiro Dibigode, responsável pela apresentação instrumental do repertório de Ataulfo Alves, define que “elegância” é a palavra-chave para se adentrar as melodias do mestre.

Para isso o grupo escolheu um conjunto de músicas bem conhecidas do autor, como “Laranja madura”, “Na cadência do samba”, “Atire a primeira pedra” e “Ai que saudades da Amélia”.

A respeito da forma com que o grupo apresentará as músicas, Tiago não titubeia: “será algo bem na onda do Dibigode, fugindo bastante do samba clássico, misturando ritmos, timbres e instrumentos inusitados, mas mantendo a essência da música.”

Essência que, aliás, transborda-se na forma de descoberta por Tiago e seus companheiros das canções de Ataulfo: “Foi como sempre, numa roda de violão, tocando Novos Baianos e de repente veio aquele susto, essa música não é deles, não, é de um tal Ataulfo Alves, mineiro bom de verso e prosa…”

SEM MALANDRAGEM
Filho do Capitão Severino, assim chamado o conhecido violeiro, sanfoneiro e repentista da Zona da Mata de Minas Gerais, pode-se dizer que Ataulfo Alves, natural de Miraí, nasceu em berço de ouro da música popular brasileira. Porque foi através do DNA paterno que aprendeu a retrucar as trovas que virariam versos, e mais tarde, clássicos.

Uma das mais notáveis qualidades de Ataulfo era a exibição de exímia classe e elegância, quebrando o paradigma do sambista relegado à malandragem. Além de compositor e cantor, atividade exercida quando acompanhado pelo trio de cantoras intitulado “Pastoras”, Ataulfo Alves era também violonista, cavaquinista e bandolinista, entre outras peripécias, alvo das pinceladas do modernista José Pancetti.

Banda toca repertório de Ataulfo Alves

Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 16/10/2012.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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