“Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso.
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.” Edgar Allan Poe
Acanhando, dentro do que nunca achou poderia ou devia fazê-lo, um rubor toma conta da ousadia involuntária, abismado pela impaciência do condão paterno o tendão se contrai em nervo e dissidência, de repente o rato corre tanto a ponto de esquecer a dor de ter uma pata presa na ratoeira.
Mas a transposição não desfaz a medida e circunstância de ter sido o menino criado por mãos de gancho, servos feitos em imobiliárias, línguas bipartidas de cobra arranjando lugar no estômago para devorá-lo. Parece conto de fadas, mas é horror a vida deste garoto.
“’Cause this is thriller
Thriller night
And no one’s gonna save you
From the beast about to strike
You know it’s thriller
Thriller night
You’re fighting for your life”
Para disfarçar as aparências as moçoilas usam do pó compacto, a fantasia de esconder a face em máscaras de renitente fragilidade. Eis o tempo a passar com a carruagem-abóbora, despistando o não olhar para trás dos sapatinhos de cristal perdidos na escada.
Relógios apenas ressoam horas em masmorras, calabouços, trancas e cadeados. Prisioneiros aglomeram-se em retirada. Aos poucos, a sala submerge vazia os sonhos dum angélico cristão endiabrado. Salmos da bíblia não servem de nada nesta mazela anoitada.
“Now I believe in miracles
And a miracle has happened tonight
But, if you’re thinking about my baby
It don’t matter if you’re black or white”
Amórfico, anacrônico, repelente de verdes brilhos, esconde-se da lembrança. Pena ela persegue. Mais do que tudo ela persegue. Com seu rastro de tinta grudadora. Escrevendo desinibida os buracos fundos que nos amalgamam.
Vergonha, virtude e rebelião. Michael possuía a poça, a lousa, a lua refletida em ambas: as duas. Dentre o armistício e o proclamar da guerra, percebeu os cupins roendo a paupérrima perna, aquela mesma do rato preso na ratoeira.
“Billie Jean is not my lover
She’s just a girl
Who claims that I am the one
But the kid is not my son”
Não deteve forças as têmporas e chiliques, ricocheteio incrível de que era capaz o capuz e o chicote presos nos membros inferiores: com ele dançava, estivava, areava a terra pronta à colheita e bonança. Cantava…mas destilou afoito perante os macacos nos galhos.
Ícaro transfigurado, voou tanto ao sol das asas apagarem-se em cera, nada mais restar além de presságios…
Uiva o lobo. Postou-se o Rei.
Raphael Vidigal
11 Comentários
Muitas saudades.
Esse foi gênio !!
Eu amo Michael Jackson
Michael fez história. Talentosíssimo.
Essa imagem do wanna be statin’ somethin’ de 1992 live buscharest é foda!!
Grande texto. Parabéns Vidigal!
O MJ dispensa comentários. Grande cantor, dançarino, compositor. Acho q nunca mais vai nascer um igual a ele.
Bj Raphael Vidigal!! vlw
?:(!! Esse garoto, um querido Raphael…..A vida não foi generosa com ele!! ….?
Michael…..genial, abç Raphael Vidigal!
O Artista!
Obrigado a todos que comentaram. Jackson é um marco da música pop mundial. Grande abraço a todos! Voltem sempre.
Excelente texto, eu diria. Parabens pela escrita Vidigal!