Marisa Monte – O Que Você Quer Saber De Verdade

“Descalço no parque
Sozinho eu estou
A esperar por você meu amor” Jorge Benjor

O Que Você Quer Saber De Verdade

Pássaros revoam dos lençóis e perguntam para Marisa Monte: O Que Você Quer Saber de Verdade? Ela, dançarina dos redemoinhos responde com a interrogativa flexão de sobrancelhas que lhe é característica. Todo o disco novo da cantora permeia a indecorosa sensatez de sua voz sigilosa.

Caminha bem arrumada pela manhã, fronha do travesseiro amassada, olhos de girassol na janela embaçada, um atento esperar pelo amor que retém, “Descalço no Parque”. Trilha férrea dum Roberto Carlos no radinho de pilha avista a memória em “Depois”.

Rito de cigarras em ciranda com formigas carrossel de pôneis no parque da estrada da infância da amarelinha o algodão doce a maçã da amora criança na montanha russa roda gigante da pequena menina de braço dado com o amor-solidão, “Amar alguém”. Vejo cinema na luz do refletor duma cabina antiga: “O Que Se Quer”, com o valente Rodrigo Amarante, herói de cavalo de pau de vassoura de bruxa na poção da ilusão.

Harmonia transcorre solta ao tilintar crina da moça, saborear o indócil tempo-espaço, mudo barulho do vazio preenchido: “Nada Tudo”. Prepara-se o palhaço no camarim com borrões de pó de arroz, flocos de sorvete, maquiagem branca, “Verdade, Uma Ilusão”. Unidade são fragmentos avessos…dispersos, talvez.

Árido remir de bucólica mancha, no tango d’outrora, o baile persegue a mulher de coque e unhas pintadas escorrendo abolição, “Lencinho querido”, clássico de Frederico Esposito, versão de Haroldo Barbosa. Romantismo de segundas-feiras enegrece e denigre a moral dos de pantufa na almofada da sala em frente à televisão, “Ainda bem”.

Vira-volta de ioiô estilingue e bumerangue, cachorro vira-lata remexendo em lixeira e saindo com sorriso de matreira mandíbula recheada por osso de canção da fome com a vontade de comer, “Aquela velha canção”. Adivinho de pretensões terceiras, aviso ao beija-flor minha volta ao lar doce lar, rocambole de doce de leite, leite morno na geladeira, “Era óbvio”.

Rapapé rococó cocorico de sinhazinha no interior da brejeirice asfaltada, peão, saia rodada, engomada no paletó, “Hoje Eu Não Saio Não”, nem adianta a língua grade da vizinha afiada. Minha faca corta até cobra jararaca. Prego um recadinho com o bafo da chuveirada no espelho, enquanto escovam-se os dentes: “Seja Feliz”.

Hemisfério divide as enormes patas de um urso-polar no pacífico, e o rebu da natureza, com a voracidade de fremir o homem, simples, se retrai, retira-se rente aos cubos de gelo do iglu construído para si. “Bem aqui”. Repousa infinda, rebobina casulo ferida, é bonina o batom da menina Marisa.

Marisa Monte cantora brasileira

Raphael Vidigal

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Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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