3 sambas preciosos de Elton Medeiros

“Quando ele nasceu tomaram cana
Um partideiro puxou samba
Oxum falou: esse promete!” Aldir Blanc

Em 1965, Elton Medeiros esteve presente no espetáculo “Rosa de Ouro”, ao lado de bambas do porte de Nelson Cavaquinho e Nelson Sargento, além da “Divina” Elizeth Cardoso que, no mesmo ano, gravaria o álbum “Elizeth Sobe o Morro”, inspirado no espetáculo idealizado por Hermínio Bello de Carvalho, num dos mais belos registros vocais da música brasileira. Com o conjunto musical A Voz do Morro, Elton atuou ao lado de Jair do Cavaquinho, Zé Kéti, Anescarzinho do Salgueiro, Nelson Sargento, Oscar Bigode, José da Cruz e Paulo César Batista de Faria, a quem Zé Kéti rebatizaria de Paulinho da Viola.

No ano de 1968, Elton cantou a música “14 Anos” com Paulinho da Viola, no álbum “Samba da Madrugada”. Em 1977, ele era um dos integrantes do disco “Os Quatro Grandes do Samba”, que dividiu com Candeia, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Discreto, avesso ao excesso de exposição e com um temperamento difícil, Elton foi uma espécie de coadjuvante de luxo da música brasileira, mais pela personalidade do que pelo talento. Presente em momentos fundamentais, ele foi um dos maiores melodistas da nossa canção, com dedicação exclusiva ao samba, gênero que tomou para si. Abaixo, listamos três dessas preciosidades.

O Sol Nascerá [A Sorrir] (1964) – Cartola e Elton Medeiros
Passado o período noturno na vida de Cartola, ele agora vivia uma nova fase. Morando com Dona Zica, recebia diariamente a visita de amigos dispostos a curtir um bom samba. A ideia foi se transformando naquela que seria a casa mais famosa do Rio de Janeiro na década de 60. Dona Zica cuidava da cozinha, enquanto Cartola cuidava do violão. Nascia o Zicartola, frequentado por bambas do morro e pela intelectualidade carioca que esboçava os primeiros passos da bossa nova. Para garantir a qualidade dos espetáculos, Cartola chamou o amigo Zé Kéti para ser diretor artístico e Hermínio Bello de Carvalho criou a Ordem da Cartola Dourada, que agraciava os grandes músicos brasileiros que ali se apresentavam. Entre eles estavam Nelson Cavaquinho, João do Vale, Ismael Silva e Paulinho da Viola. Localizada na rua da Carioca, a casa despertou o interesse de Nara Leão, que além de bossa nova gravou em seu disco de estreia três sambas, um deles intitulado “O Sol Nascerá” , também conhecido como “A Sorrir”, de Cartola e Elton Medeiros. Incluída no Show Opinião, a música tornou-se um dos maiores sucessos da carreira de Cartola, e recebeu regravações de Isaura Garcia, Elis Regina, Jair Rodrigues, dentre tantos outros. O refrão solar traduzia bem o momento de seu autor, sorrindo após a tempestade.

Meu Sapato Já Furou (1974) – Elton Medeiros e Mauro Duarte
Mauro Duarte, como de praxe, queria contribuir com um samba para o novo álbum de Clara Nunes, “Alvorecer”, no ano de 1974. Depois de apresentar uma série deles, que acabaram não agradando, o compositor, já desanimado, resolveu cantar os versos de uma parceria com Elton Medeiros, mas que ele não considerava apropriada para o momento. Quando enfim entoou a primeira parte de “Meu Sapato Já Furou”, não houve dúvidas por parte de Clara, nem de ninguém. O samba já estava escolhido: “Meu sapato já furou, minha roupa já rasgou, e eu não tenho onde morar…”.
Leila Diniz

Mais Feliz (1995) – Elton Medeiros, Carlinhos Vergueiro e Paulo César Feital
A morte trágica e precoce de Leila Diniz, aos 27 anos, num acidente de avião quando voltava da Índia para o Brasil, após divulgar um filme na Austrália, representou para o país a perda de um jeito atrevido e irresponsável de se posicionar. Perdia-se a beleza, a poesia de uma jovem que enfrentava as repressões sociais sem empunhar armas de fogo ou discursos inflamados. A imagem de Leila grávida, na praia, de biquíni e chapéu na cabeça cristaliza essa possibilidade da mulher; feminina, rebelde, alegre, ousada, mãe, “porra-louca”, enfim, o que ela quiser; numa só personagem. Tudo isso, ainda assim, não é suficiente para explicar Leila Diniz. Para isto, é necessário assisti-la, e compreender que ela foi, sobretudo, e antes de mais nada, uma mulher, com todas as vogais e consoantes, sem asteriscos nem cortes. Em 1995, Leila ganhou uma homenagem à altura de sua coragem, composta por Elton Medeiros, Carlinhos Vergueiro e Paulo César Feital. “Mais Feliz” deu nome ao disco de Elton daquele ano.

Raphael Vidigal

Fotos: Museu da Imagem e do Som/Divulgação

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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