100 anos de Aracy de Almeida: a jurada e a cantora

“Quis levar também um bom floreiro e um ramo de rosas amarelas para conjurar a sorte ruim trazida pelas flores de papel, mas não encontrei nada aberto e tive que roubar num jardim particular um ramo de recém-nascido amor-perfeito.” Gabriel García Márquez

aracy-de-almeida

Engana-se quem pensa que a participação de Aracy de Almeida como jurada do programa de calouros do apresentador Chacrinha, e depois Silvio Santos, tenha distorcido a imagem da cantora. Basta ouvir as gravações de entrevista da intérprete contando de sua relação com Noel Rosa, o começo da carreira, e a forma despojada no uso da voz na canção para perceber que Aracy sempre teve uma personalidade ímpar, da qual não se podia descolar, a princípio, personagem e vida. Se muitos dos seus maneirismos pareciam caricaturais e provocavam o riso é porque ela nunca fez questão de enquadrar-se em “bons modos”, “princípios”, e é justo nisso que se diferenciou, na década de 1930, entre tantas cantoras do Brasil. Foi, ao lado de Carmen Miranda, um destaque.

O que pode ter contribuído, sem dúvida nenhuma, para agradar a compositores como Assis Valente, ás voltas com a homossexualidade não assumida, o sempre rígido e despachado Ary Barroso, e, mais do que todos, o poeta da Vila Noel Rosa, que construiu com Aracy de Almeida uma amizade tão sólida que esta foi responsável direta por manter acesa a chama da obra do amigo após a sua partida. Pendure-se na conta de Aracy a culpa por popularizar os sambas “Palpite Infeliz”, “Conversa de Botequim”, “Feitiço da Vila”, “Pra Quê Mentir?”, “Feitio de Oração”, “Três Apitos”, “O Orvalho Vem Caindo”, “Fita Amarela”, “Triste Cuíca”, “Com Que Roupa?”, “Filosofia”, e mais “algumas coisinhas”, como ela dizia. Não é pouca coisa. Aracy de Almeida pode se gabar desta vida.

aracy-de-almeida-100

Raphael Vidigal

Lido na rádio Itatiaia por Acir Antão em 24/08/2014.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

24 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]