*por Raphael Vidigal
“Para dizer-lhes a verdade, os apaixonados são mesmo malucos!” Molière
O amor está no ar, como dizia aquela famosa canção norte-americana, de John Paul Young, mas, aqui, damos preferência aos compositores nacionais, com uma leve exceção que comprova a regra, à francesa. O importante é tocar o coração, e a diversidade também marca presença com balada, toada e canção, de norte a sul do Brasil, com os mais variados ritmos e aquele pulsar inconfundível. Todo casal é único, assim como a paixão é múltipla. Fato é que o amor e suas consequências segue como tema incontornável da Humanidade.
“Je T’aime… Moi Non Plus” (balada, 1969) – Serge Gainsbourg
Nada como uma polêmica para acender uma canção e leva-la ao topo das paradas de sucesso. Foi o que aconteceu com a balada “Je T’aime… Moi Non Plus”, do francês Serge Gainsbourg, que, em 1969, acabou proibida em diversos países, devido a seu conteúdo erótico. No Brasil, apesar da censura, a canção passou, e logo se tornou uma febre parecida ao fervor da cantora Jane Birkin, então namorada de Gainsbourg, que acompanha o compositor na gravação e simula um orgasmo. Para completar, a música é cantada em sussurros. Originalmente, ela teria sido composta para a musa Brigitte Bardot…
“Teletema” (canção, 1970) – Antônio Adolfo e Tibério Gaspar
Em 1970, a cantora Regininha emplacou o seu maior hit, quando a música “Teletema”, de Tibério Gaspar e Antônio Adolfo, entrou para a trilha-sonora da novela “Véu de Noiva”, da Rede Globo. Posteriormente, a música recebeu regravações de Evinha, Erasmo Carlos e do Kid Abelha, na voz de Paula Toller. “Rumo/ Estrada turva/ Sou despedida/ Por entre/ Lenços brancos/ De partida/ Em cada curva/ Sem ter você/ Vou mais só”. Um clássico absoluto, a música ficou conhecida, sobretudo, na gravação de Evinha, e chegou ao topo da parada de sucessos, reforçando a sua beleza atemporal que toca corações.
“Universo no Teu Corpo” (balada, 1970) – Taiguara
Filho do bandoneonista gaúcho Ubirajara Silva e da cantora uruguaia Olga Chalar, o cantor Taiguara nasceu em Montevidéu, no Uruguai, quando seus pais realizavam uma temporada de espetáculos pelo país sul-americano. Radicado no Brasil, Taiguara chegou a ser considerado o compositor mais censurado pela ditadura militar, com 68 canções proibidas. Em 1968, o músico venceu o Festival Universitário de MPB, com a canção “Helena, Helena, Helena”, e, no mesmo ano, levou o festival “Brasil Canta no Rio”, com “Modinha”. Outro sucesso estrondoso do compositor foi a comovente balada “Universo no Teu Corpo”, que, em 1970, refletia sobre política, amor e poesia…
“Revelação” (balada, 1978) – Clodô e Clésio Souza Ferreira
Fagner sempre gostou de gravar poetas, como Cecília Meireles, Florbela Espanca e o parceiro Ferreira Gullar, mas, em 1978, a situação foi um pouco diferente. Clésio de Souza Ferreira compôs uma melodia para “Memória”, poema de Carlos Drummond de Andrade, porém, a gravação foi feita com a música de outro artista. Para não perder a melodia e ser acusado de plágio, Clésio pediu uma letra a Clodô. Assim nascia “Revelação”, que logo conquistou Fagner. A música foi lançada em 1978, no álbum “Eu Canto: Quem Viver Chorará”, e logo se tornou o primeiro sucesso radiofônico do cantor cearense.
“Minha Superstar” (balada, 1981) – Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Uma tragédia marcou a vida de Erasmo Carlos, quando a ex-mulher Narinha, que sofria de depressão, cometeu suicídio, em 1995, aos 49 anos. Os dois estavam separados desde 1991. Mas quando eles ainda eram casados, Erasmo dedicou todo um disco à esposa, lançado em 1981, em que apareciam juntos na capa, com o cantor nos braços de Narinha. Entre as canções de maior sucesso do disco está a balada “Minha Superstar”, de Erasmo e Roberto Carlos. Na letra, o compositor apaixonado descreve a esposa: “Ela é minha superstar/ Mulher de brilho farto/ Que eu sempre hei de ver brilhar/ No palco do meu quarto”. Um sucesso atemporal, e que ainda embala os casais românticos.
“Ai Que Saudade D’ocê” (toada, 1983) – Vital Farias
Paraibano de Taperoá com influências ibéricas em seu violão, o músico Vital Farias construiu uma obra particular, facilmente identificável. Entre seus maiores sucessos destacam-se “Era Casa, Era Jardim”, lançada em 1978 e regravada por Fagner, também conhecida como “Canção em Dois Tempos”, e “Veja (Margarida)”, de 1980, lançada por Elba Ramalho no disco “Capim do Vale”. Também paraibana, Elba voltou à obra de Vital no álbum “Coração Brasileiro”, de 1983, um dos mais bem-sucedidos de sua trajetória, que rendeu à cantora os discos de ouro e platina pelas milhões de cópias vendidas. No repertório, Elba dá voz a “Ai Que Saudade D’ocê”, uma toada dolente, romântica, que caiu no gosto do público e entrou para o repertório de sucessos.
“Iolanda” (canção, 1984) – Pablo Milanés em versão de Chico Buarque
A tentação de estabelecer relações diretas entre o entorno e a obra só não pode cair na esparrela de perder de vista o primordial. Se o próprio Chico Buarque calhou de encontrar anacronismo em algumas de suas composições – e agora revê este ponto de vista quando as traz novamente à baila, certamente influenciado pelo cotidiano –, a observação mais atenta percebe nelas um sentido, acima de tudo, humano. A versão feita por Chico para a balada “Iolanda”, de Pablo Milanés, abriu espaço para o lado romântico e a gama de personagens que sua lírica foi capaz de criar nessas décadas. A versão lançada pela cantora Simone, em 1984, se transformou em sucesso atemporal.
“Aventura” (balada, 1986) – Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes
A dupla de compositores formada por Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes é responsável por músicas impagáveis do repertório nacional, como “A Índia e o Traficante”, “Doméstica”, “Brega-Chique”, “Folia no Matagal”, “Chocante”, dentre outras, em que mesclavam um humor ácido e irônico a críticas sociais, com forte influência do Teatro Besteirol do qual Góes fez parte, ao lado de nomes como Vicente Pereira, Miguel Falabella e Mauro Rasi. Além da irreverência, a dupla também apostava no romantismo, como comprova a balada “Aventura”, lançada em 1986, um dos maiores sucessos da carreira de Eduardo Dussek. Com canto doce e suave, ele disseca meandros do encontro.
“Alma Gêmea” (balada, 1994) – Peninha
Aroldo Alves Sobrinho só é reconhecido quando chamado pelo nome que o consagrou. Cantor popular, compositor e instrumentista, Peninha nasceu em São Paulo e começou a carreira artística em 1972, com apenas 19 anos, ao gravar um compacto. O primeiro sucesso nacional veio em 1977, quando a música “Sonhos”, de Peninha, foi incluída na novela “Sem Lenço, Sem Documento”, da Rede Globo. Outro arrasa-quarteirão aconteceu em 1994. A balada “Alma Gêmea” foi gravada pelo cantor Fábio Jr. e chegou ao topo das paradas de sucessos. No ano de 1997, Peninha lançou a sua versão para o hit.
“Românticos” (balada, 1999) – Vander Lee
O segundo disco de Vander Lee, no “Balanço do Balaio”, foi lançado em 1999 pela gravadora Kuarup, e trouxe no repertório o maior sucesso de sua carreira: “Românticos”, uma balada delicada, dolente e sensível, com forte poder de identificação sobre o público. “Românticos são poucos/ Românticos são loucos desvairados/ Que querem ser o outro/ Que pensam que o outro é o paraíso”. Em 2019, a música ganhou uma versão da Orquestra Ouro Preto, com os vocais de Renegado, rapper que manteve longa amizade com Vander Lee. Hit.