10 músicas brasileiras para o Dia da Consciência Negra

*por Graziele Martins (jornalista e designer gráfica)

“E acredito, acredito sim
que os nossos sonhos protegidos
pelos lençóis da noite
ao se abrirem um a um
no varal de um novo tempo
escorrem as nossas lágrimas
fertilizando toda a terra
onde negras sementes resistem
reamanhecendo esperanças em nós” Conceição Evaristo

20 de novembro. Dia Nacional da Consciência Negra. Data referente à morte de Zumbi, líder dos Quilombos dos Palmares, símbolo de luta e resistência dos negros escravizados no Brasil. Zumbi lutou até o fim de sua vida pela libertação do seu povo. Um capítulo triste da história dos negros e que deixou consequências muito bem consolidadas: o racismo estrutural que se faz presente, anunciado, mostrado nos dias atuais.

Além da importância histórica da data, é um momento de enaltecer o Ser Negro, de mostrar a potência de um povo, que compõem a maioria da população brasileira. É sobre dar voz, espaço, oportunidades. Sobre evidenciar a pluralidade de um povo marcado pela luta e resistência diária.

Das diversas formas que os negros encontraram para resistir, a música foi e ainda é um importante instrumento. A contribuição dos negros para a cultura brasileira, musicalmente falando, é enorme: passando do jongo ao samba, do rap ao funk, por exemplo. Sejam em épocas ou estilos diferentes, a música é um exemplo de sobrevivência, de manifestação, de combate ao racismo e de evidenciar o orgulho de Ser Negro.

“Tributo a Martin Luther King” (samba-bossa, 1967) – Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli
Canção composta por Ronaldo Bôscoli e Wilson Simonal. Gravada por Wilson em 28 de fevereiro de 1967. Lançada em compacto pela gravadora Odeon, a música fala sobre a importância de reconhecer os antepassados e suas lutas. Foi a primeira música que Simonal ensinou ao seu filho, Simoninha: “Essa música, eu peço permissão a vocês, porque eu dediquei ao meu filho, esperando que, no futuro, ele não encontre nunca aqueles problemas que eu encontrei, e tenho às vezes encontrado, apesar de me chamar Wilson Simonal de Castro”.

“Negro É Lindo” (samba-rock, 1971) – Jorge Ben Jor
Lançada em 1971, a faixa-título faz parte do oitavo álbum de Jorge Ben Jor. Composta por Jorge, é uma verdadeira exaltação da negritude: “Negro é lindo/ Negro é amor/ Negro é amigo/ Negro também é filho de Deus”. A música foi regravada pelo grupo Cidade Negra, com Toni Garrido nos vocais, em 1996.

“Sorriso Negro” (samba, 1981) – Jorge Portela, Jair Carvalho e Adilson Barbado
A canção faz parte do terceiro disco de Dona Ivone Lara e foi composta por Adilson Barbado, Jair Carvalho e Jorge Portela. Muitos pensam que a música foi escrita por Dona Ivone, mas, não, ela deu a voz ao lado de Jorge Ben a esse samba que se tornou um clássico, um hino com uma mensagem muito positiva do universo negro.

“Identidade” (samba, 1992) – Jorge Aragão
A música faz parte do álbum “Chorando Estrelas”, lançado em 1992. Composta por Jorge, a canção faz referência à luta e à resistência do povo preto: “Quem cede a vez não quer vitória/ Somos herança da memória/ Temos a cor da noite/ Filhos de todo açoite/ Fato real de nossa história”.

“Negro Drama” (rap, 2002) – Mano Brown e Edi Rock
Faixa do álbum “Nada Como um Dia Após o Outro”, lançado em outubro de 2002 pelos Racionais MCs. Composta por Mano Brow e Edi Rock, a canção de quase sete minutos retrata o drama e a lama do negro brasileiro periférico e as estratégias de sobrevivência nesse universo político-social de adversidades. Música que contribuiu muito para a autoestima do jovem negro brasileiro oriundo da periferia ao resgatar valores culturais, históricos, comportamentais e estéticos.

“A Carne” (rap, 2002) – Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses Cappelletti
Composição de Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses Cappelletti, a letra explora o racismo estrutural presente na sociedade brasileira. Interpretada por Elza Soares, a faixa está presente no álbum “Do Cóccix Até o Pescoço”, lançado em 22 de abril 2002. Seus versos emblemáticos trazem uma crítica ao sistema de opressão e exclusão da sociedade brasileira com o povo preto.

“Mandume” (rap, 2015) – Emicida, Drik Barbosa, Rico Dalasam, Raphão Alaafin, Muzzike e Amiri
Canção do álbum “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”, de 2015, do Emicida. Gravada com a participação de Drik Barbosa, Rico Dalasam, Raphão Alaafin, Muzzike e Amiri, a música presta homenagem a Mandume, um rei angolano que resistiu bravamente às invasões europeias, e que serve de inspiração para as novas gerações. Os versos, com uma mensagem forte e um refrão urgente, são uma afronta ao racismo e afirmam que o lugar do negro é onde ele quiser.

“A Coisa Tá Preta” (rap, 2017) – Rincon Sapiência
A letra tem uma missão: ressignificar a expressão racista “A Coisa Tá Preta”. Lançada em 2017, no álbum “Galanga Livre”. Rincon, autor da canção, aborda uma nova forma de falar sobre questões raciais, trabalhando em cima da autoestima, a ascensão social e a quebra de estereótipos. É uma verdadeira celebração do ser negro, não exaltando somente as dores, mas as suas potencialidades.

“Breu” (pop, 2017) – Lucas Cirillo
Música do primeiro álbum solo de Xênia França, escrita por Lucas Cirillo, é uma homenagem a Cláudia Silva Ferreira, conhecida como Cacau, que foi assinada pela Polícia Militar, no Rio de Janeiro, em 2014, enquanto caminhava para comprar comida para seus quatro filhos . A canção relata as dificuldades de ser uma mulher negra no Brasil.

“Bluesman” (blues, 2018) – Baco Exu do Blues
Composta por Baco e lançada em 2018, a faixa-título faz parte do segundo álbum do rapper Baco Exu do Blues. A canção mostra o primeiro ritmo produzido por pretos, o Blues, que foi um marco na história do movimento civil negro. Baco anuncia que tudo é Blues, como uma forma de libertação para vencer os preconceitos sociais. A música também faz referência ao pintor norte-americano Basquiat, ícone da cultura pop.

Foto: Guilherme Silva/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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