10 mineiros que poderiam ter nascido no Rio

*por Raphael Vidigal

“O mar de Minas não é no mar.
O mar de Minas é no céu
pro mundo olhar pra cima e navegar
sem nunca ter um porto onde chegar…” Domínio Público

Eles são mineiros, mas dedicaram filmes, livros e canções para aquela que é considerada por muitos como a “Cidade Maravilhosa”. Vocacionados para a criação, músicos, atores, escritores e cineastas partiram de todos os cantos das Minas Gerais em busca de uma oportunidade para exercer o seu ofício e acabaram se estabelecendo no Rio de Janeiro. Hoje em dia, não é incomum que eles carreguem o sotaque praiano e tragam a saudade das montanhas.

Ary Barroso (1903-1964)
Se lhe perguntassem porque ele nunca compôs para a sua terra natal, Ary Barroso diria, com humor ácido: “Afogue a saudade nos copos de Ubá”, reinventando a canção “Risque”. O que se conta é que esse diálogo ocorreu entre Ary e Antônio Maria. Nascido em Ubá, na Zona da Mata mineira, Ary era torcedor fanático do Flamengo e compôs, entre outras, “Rio de Janeiro”, que concorreu ao Oscar de melhor música em 1945, pela trilha de “Brazil”.

Grande Otelo (1915-1993)
Considerado um dos maiores humoristas da história do Brasil, Sebastião Bernardo da Costa começou a carreira nos teatros de revista e cassinos cariocas, quando ainda não havia ganhado a alcunha de Grande Otelo, pela qual ficaria conhecido em filmes como “Macunaíma”, onde encarnava o tipo brasileiro que se caracteriza pela preguiça. Ele nasceu em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e compôs, com Herivelto Martins, o samba “Praça Onze”.

Ivon Curi (1928-1995)
Ator, compositor, cantor e dublador, Ivon Curi foi um artista de múltiplos talentos. Nascido em Caxambu, no Sul de Minas, ele se mudou para o Rio de Janeiro durante os anos 40 e iniciou a carreira como crooner do Hotel Copacabana Palace. Em 1966, participou da primeira versão do programa “Os Trapalhões”, ao lado de Renato Aragão, Wanderley Cardoso e Ted Boy Marino. Ivon esteve presente em cerca de 30 chanchadas da Cia. Atlântida.

Noca da Portela (1932)
Filiado ao Partido Comunista Brasileiro, Osvaldo Alves Pereira mudou-se ainda criança de Leopoldina, na Zona da Mata mineira, para o Rio de Janeiro. Na capital carioca, ele logo ganharia o apelido de Noca da Portela, pela ligação umbilical que estabeleceu com a escola de samba. Autor de sambas-enredo de sucesso, Noca é o autor de “Virada”, lançado por Beth Carvalho e considerado um hino na luta pela redemocratização do país.

Ezequiel Neves (1935-2010)
Antes de assinar, como Zeca Jagger, matérias para a revista Rolling Stone que mexiam com a imaginação de jovens aspirantes a roqueiros, o belo-horizontino Ezequiel Neves foi bibliotecário da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Já na capital carioca, tornou-se parceiro de Cazuza, com quem assinou sucessos como “Exagerado” e “Codinome Beija-flor”. Em 2014, inspirou livro escrito por Silviano Santiago.

Neville D’Almeida (1941)
Com cenas de nudez frontal e sequências de sexo na piscina, “Rio Babilônia” acumulou críticas e polêmicas ao mesmo tempo em que se transformou na maior audiência de um filme na TV brasileira. Como cenário, o diretor Neville D’Almeida, nascido em Belo Horizonte, utilizou paisagens do Rio de Janeiro. Antes de se mudar para a capital carioca, ele morou nos Estados Unidos e criou, com Hélio Oiticica, a obra “Cosmococa”, que fica exposta no Inhotim.

João Bosco (1946)
João Bosco estreou na composição tendo como parceiro Vinicius de Moraes. Os dois se conheceram em Ouro Preto, onde Bosco, nascido em Ponte Nova, na Zona da Mata mineira, cursava engenharia civil. Ao partir para o Rio de Janeiro na década de 70, Bosco logou travou contato com seu parceiro definitivo. Ao lado de Aldir Blanc, ele gravou crônicas que tinham como pano de fundo a própria cidade, como “De Frente pro Crime” e “Kid Cavaquinho”.

Ruy Castro (1948)
Conterrâneo do cartunista Ziraldo, o mineiro Ruy Castro, nascido em Caratinga, no Vale do Aço, consagrou-se como o biógrafo do pernambucano Nelson Rodrigues, do carioca Garrincha e da portuguesa Carmen Miranda, todos identificados com a cidade do Rio de Janeiro. Como jornalista, Castro iniciou a carreira na capital carioca e contribuiu, durante a ditadura, com importantes veículos de imprensa, como “O Pasquim” e “Correio da Manhã”.

Leda Nagle (1951)
Durante 22 anos, Leda Nagle foi a cara do “Sem Censura”, programa de entrevistas que comandou na TVE Brasil. Antes disso, a profissional teve passagens pelo “Jornal Hoje”, da Rede Globo, e TV Manchete. Nascida em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, Leda mudou-se para o Rio de Janeiro logo após concluir a faculdade de jornalismo na universidade federal de sua cidade natal. Em 2002, a jornalista atuou no filme “Querido Estranho”.

Débora Bloch (1963)
No filme “Bete Balanço”, de 1984, Débora Bloch viveu uma aspirante a atriz que buscava a fama no Rio de Janeiro, vinda de Governador Valadares. Nascida em Belo Horizonte, Débora, filha do também ator belo-horizontino Jonas Bloch, estreou em palcos cariocas com a peça “Rasga Coração”, ao substituir Lucélia Santos. Em 1988, ela integrou o elenco de “TV Pirata”, humorístico de sucesso que ainda contava com Cláudia Raia e Regina Casé.

Fotos: Divulgação

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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