Teatro: Cabaret

Musical com Cláudia Raia tem pecados e virtudes

Cabaret

Muito luxo, purpurina, plumas e paetês sonegam os olhos da platéia com rímel e sexo aparente. Superficialmente, o musical ‘Cabaret’, estrelado por Cláudia Raia em versão brasileira de Miguel Falabella não subtrai espaço para dúvidas: é uma delícia.

No entanto, o teor dos diálogos muitas vezes fica abaixo de todo o glamour exibido com qualidade no cenário (construído com requinte, com destaque para as cortinas e o vídeo instalado), nas coreografias (mérito a Alonso Barros) exuberantes e libidinosas, na iluminação soberba, e principalmente da imponente apresentação da orquestra.

Com direção musical e vocal de Marconi Araújo, todos os atores, sem exceção, falam melhor quando cantam. Isto por conta de dois fatores: a excepcionalidade das canções e a diluição das palavras. Normalmente em prol de um humor rasteiro, desconexas com o tempo em que se propõe a trama, a costura do alfabeto em cena perde muito do ritmo da atração.

Já as músicas empolgam a todo momento, e um dos pontos mais louváveis da peça é justamente a interação com a platéia, que se esbalda nas boas letras (essas sim, com humor incorreto e rasante, haja vista o ótimo número sobre preconceito que inclui uma atriz vestida de macaca), e nas insinuantes intervenções do ator Jarbas Homem de Mello, como MC, o Mestre de Cerimônia.

Ao contrário deste, o protagonista Guilherme Magon tem desempenho abaixo do esperado, com mau sotaque e dicção atropelada. Os enredos melodramáticos que se desenham à medida que corre o espetáculo, deixa clara a dificuldade dos envolvidos na trama em lidar com o tema. Excessivamente clichês os discursos sentimentais soam fracos e cansativos. O humor ainda parece ser a melhor saída.

Cláudia Raia salienta o incrível talento vocal e corporal todas as vezes em que canta e dança. Apenas quando tem que se virar somente com um texto geralmente ralo é que se perde, imitando os trejeitos da colega Marisa Orth. Maquiados na voga dos clowns europeus e lembrando o expressionismo alemão, os atores que interpretam os dançarinos do Cabaret se limitam a enternecer pelo exterior chocante (no ótimo sentindo).

O final apoteótico, como condizente com peças do gênero, redime um pouco a intemperança do todo oferecido. Comoção e aplausos eclodem na medida em que os atores são apresentados. Curiosamente, os mais corretos do musical, que vivem os coadjuvantes do imbróglio nazista levemente explorado, Liane Maya e Marcos Tumur, são os menos exaltados pelo público, ávido principalmente pelo óbvio televisivo.

A direção de José Possi Neto para o famoso musical escrito por Joe Masteroff e com canções compostas por John Kander e Fred Ebb, rasteja na beira do improvável coletivo medíocre e nas pontualidades extremas, onde alternos momentos arrancam emoções intransigentes. Sendo o teatro obra de arremedo técnico e emotivo, o primeiro ressalta-se melhor desta feita.

O Cabaret de Lupicínio Rodrigues, famoso por trafegar na via área que invade o tosco e o sublime, equilibra-se melhor nesse sentido, sobretudo pela peculiar epígrafe que me serve de adendo:

O cabaré se inflama,
Quando ela dança
E com a mesma esperança
Todos lhe põe o olhar
E eu, o dono,
Aqui no meu abandono
Espero louco de sono

O cabaré terminar”

Teatro

Raphael Vidigal

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8 Comentários

  • bem, achei um tanto quanto ácida a crítica, mas assisti e concordo em alguns pontos! Mas pra maioria do público presente(velhinhos ricos) a história, ou como os atores se portavam em cena eram apenas enfeites, já que eles estavam lá pra ver a global claudia raia. eu acho que uma outra atriz teria feito muito melhor o musical do que ela… mas o MC e o ensemble seguram o espetáculo do inicio ao fim, alem da história apesar de um pouco perdida no enredo, foi até bem costurada. de um modo geral, eu gostei e muitooooo!!

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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