“Descobrir Continentes é tão fácil como esbarrar com um elefante: Poeta é o que encontra uma moedinha perdida…” Mario Quintana
Perdoem a indiscrição. Sei desse ser um show de grupo. Com três estrelas circundando a Ursa Maior. No entanto fui até lá para ver o Mauro, apenas. Estivesse ele só naquele palco, as cadeiras do conservatório vazias, e o som pifando, lá estaria.
Dispenso explicações geométricas e matemáticas e métricas demais pra pouca rima. Mauro Zockratto é cantor de repente. Assim se encontrou na minha vida como quem tromba em elefantes sem ver, e descobre continentes (reproduzo Mario Quintana).
Pois neste mesmo ato, olha para baixo, para a pata enorme do elefante, e descobre sob ela, uma pequenina moeda, histórica, já sem nenhum valor no mercado corrente, vinda dalgum país exótico do leste europeu: Hungria, Ucrânia, Eslovênia, Croácia.
No mesmo suspiro em que espirra água a tromba do elefante e engole o amendoim arremessado pela plateia do circo, um terremoto, tremelique, desnorteio arremete o corpo quando este cantor de pouco tino e nobre tato começa a, como direi, espraiar versos e timbres?
Sim, Mauro Zockratto é bilíngue. Fala a língua recatada da alma prisioneira e liberta as ásperas rouquidões guardadas em baús quixotescos. Escolhe como ninguém as esmeraldas, pérolas, diamantes, a enfeitar teu figurino de terno suado e sapato vermelho, condiz dizer.
Condor do céu vermelho a dramatizar cabaré no tango de Marcelo Jiran, gavião rasteiro a abocanhar acerolas laranjas, maduras, de Baden e Paulo Cesar Pinheiro, com o acompanhamento de Carlos Walter e Adir Reis, pássaro de fogo, fênix, Mauro acalora e emociona ao interpretar, de olhos fechados, “Resto de Saudade”, do pernambucano famoso de frevos, Capiba.
Assim desprezarei o piano exuberante do menino encantado Marcelo, o violão portuário, a lua do cais, da dupla eletroacústica Adir e Carlos, todo esse desdém irresponsável em reverência a Mauro: generosidade e talento numa pedrinha descoberta em meio às areias do deserto, oásis refeito.
Raphael Vidigal
10 Comentários
Esse canta bonito! Ele cantou numa participação, acho que do show de Warley no Pizindin Choro no Palco, este ano. Ainda não o conhecia, rsrs… Fiquei encantada com sua voz forte, afinada e interpretação maravilhosa! Parabéns a esse moço!!
Parece muito belo. Seu texto nos inspira um forte desejo de conhece-lo, ouvi-lo… De também encontrar uma moedinha perdida.
Beijos, Raphael!!!
Fiquei curiosa pra ver o show do Mauro sua banda! Pareceu-me divino!
Lindo!
Sem palavras, caro Raphael Vidigal. Bobagem devolver elogios, rasgação de seda para quem está muito à frente do “meu” tempo. Obrigado pela presença e pelo presente nessa Esquina que não é palco pra qualquer um. Me sinto honrado. Abração!
Já li um bocado de coisas. Mininuuuu, tu escreve mucho bem!!!! Mauro tinha muita razão sobre tu. Rs. Parabéns!!!!!!
Poeta Escritor, ou Escritor Poeta. Digo, ainda. Sr. Raphael Vidigal, seu texto têm palavras exatas para o que vimos no Conservatório da Ufmg. Mauro e companhia são moeda em continente sem explorador. Mas, você os alcançou, penso. Desbravou-os bem. Parabéns há ambos. Show de música e de palavras reportadas.
Eu também!
Obrigado a todos pelas palavras carinhosas e de apoio! Abraços
Mauríssimo querido, sempre autêntico, com fotos maravilhosas no perfil. É um prazer ter a alegria de ser teu amigo! Sobre sua voz, acho que nosso amigo Raphael Vidigal definiu muito bem. Obrigado pelo carinho de sempre, irmão! Beijo, luz e paz.