“O pássaro desenha
No seu vôo estrangeiro
(Porque nada sabemos
De pássaros e vôos
E do impulso alheio)
Um círculo de luz.” Hilda Hilst
O tímido João Bosco pisa o palco com passos do menino de Ponte Nova. O tênis branco certamente não combina com o paletó desengomado pousado pra fora qual a blusa escapa da calça, peixe saindo do aquário. Cabisbaixo começa a desfiar sua ladainha aprendida com os antepassados: Dorival Caymmi, Oxum, Silas.
Explico: digo ladainha porque é fácil notar a influência africana com caldo de galinha à mineira nos murmúrios do moço. O molho pardo é despejado por sobre a carne branca com elegância. Como se colocam os talheres dispostos na mesa circundando a lousa branca, a senzala é a Orquestra Sinfônica regida por Roberto Tibiriçá.
Tibiriçá, nome de passarinho ofegante, ágil, envolvente, é desta fatia de bolo que o maestro prova o fubá bem fermentado por João Bosco, que vai crescendo nas medidas dos ingredientes a receita do moço não há dúvidas: ora se coloca farinha de mandioca, na dose certa e concisa dos sopros graves, outrora se derrama leite de coco e dendê, no banho da escrava nua e mulata, apanhando, mas sempre Isaura no pau de arara.
É assim, juntando uma ave à outra que o tímido compositor e o extra-polido regente complementam o vôo: enquanto um utiliza o bico pra buscar minhoca o outro captura o barro para o ninho de João. Nem os flertes com as andorinhas atrás de verão, muito menos as flores se dando na primavera a ignorar sermão, o clima soteropolitano do mestre sala dos mares dissolve-se em lareira e inverno, na interpretação arrebatadora de Corsário.
Parece ser o desfecho para uma noite cálida, entre bocejos e sonatas, Eros e árias, o amor transpassando as órbitas de lilás, Dalila, Jade, musas enrustidas sob a pretensão das vestes de João: apenas um menino caminhando ao largo da ponte. Mas ele é conclamado a voltar para onde pisa sem nenhum alarde, como quem afunda o pé na terra batida de sua infância. Hesita, no entanto são irresistíveis os trancos que lhe impõe platéia e maestria.
Voltando ao passado lembro-me agora que no começo houve um exuberante Tchaikovsky, no início dos tempos, a esmo de Romeu & Julieta, uma conclamação de sinos, espadas, violinos, harpa, percussão, virada do século vinte e um para quando eram: um os nossos sonhos, uma entranha, indecifrável e única a música do menino João, que não cresceu ainda, com sua voz de vulto, mas já é moço: sorriso tímido de Ponte Nova.
Raphael Vidigal
13 Comentários
Tava doido pra ir!!!!
?Raphael Vidigal………Arrasando com João Bosco!!
João Bosco, gêniooooooooooooooooooooo.
Sou fã desse mineiro, “uai”…rsrs
Acabei de assistir esse espetáculo no P.A. , bacana demais, esse tal de João Bosco é bom demais, sensacional viu…
Ele é muito bom, mas a orquestra é de arrepiar!!!!
Amooooooooooooo essa música ….cantada por João Bosco!!!
ESCLARECENDO: gosto na voz dele….mas fez sucesso com Elis!!
“Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
como as garrafas de náufrago e as rosas partindo o ar
nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar”.
Música linda!!!! Emociona sem razão nenhuma! heueheuheueh
sempre será uma incógnita…
Ele é magnífico!!! Show!!
e ontem, coincidência, ouví muitas vezes seguidas:”Sinceridade” e “Jade”….rsrs… Amo!!!
Obrigado a todos que comentaram! João Bosco é um grã-mestre-sala dos mares!