Renato Russo criou canções atemporais que o transformaram em ícone

Rock

*por Raphael Vidigal Aroeira

O menino enrolado nos lençóis brancos. De uma Rússia onde gelo e filosofia se misturam, acompanham tua solidão. Fantasmas debaixo da cama vêm lhe assombrar todas as noites, com os mesmos presságios: uivos de lobos carregam nas patas coragem e maldade.

Os óculos embaçam o idioma. Dívidas com o português, inglês e italiano, dúvidas com o sexo. Beijou um sapo e ele se transformou em princesa, quando era o príncipe que dentro do sono erótico cultivava-lhe os sentidos prósperos, de tesão e carinho.

Mas se a vida quis ensinar o que é certo, ele, cheio de si, esvazia-se aos cacos, giletes, barbas e ácidos, destemido. Desrespeita a vida e quem se intrometer a mostrar-lhe os tubos de ensaio desse romance que Deus concedeu escrever. A única obra divina comédia trágica profana desde as eras de Dante, no mato na moita tocaia gaiata gata guta-percha.

Não vou passar a borracha, nem me arrepender. Enterrarei no álcool as dores, lascivos, cadernos de anotações e poemas. Mil poemas valem mais do que a furta tentativa de suicídio. Basta besta bolha. No olho do meu irmão, há um ombro. É disto que preciso para: chorar, rir, enternecer, atacar.

Brasília no meu templo perdido foi uma cidade debaixo de concreto, trabalhadores rurais arrancados de sua família a mando de coronéis babões, onde jorrava leite da teta das vacas faltava no berço do bebê recém nascido. Por isso arrisquei-me a vir para a Rússia. Aqui fiquei, e fincará mais ainda as estacas contra vampiros que cravei no coração dos hipócritas hipocondríacos jibóias de laudas perícias martírios.

Papai atirou-se da janela. Mamãe morre de medo. O bom filho à casa torna, eu sei disso. Li nos livros. Mas segurei tão firme no pulso de Jim Morrison que ontem à noite selamos um pacto de sangue, à lua gorda e transparente que nos fitava com vestido de cetim. Por isso não há regresso volta partida despedida. É definitivo.

Minhas iniciais grudaram como goma de mascar, que eu, Dinho, Dado, Bonfá, Herbert, André Pretorius, Philippe Seabra e a rapaziada punk do vinho canção e das drogas barra leve (maconha, pó, LSD, benzina, cigarro) curtia transar. Raspamos tanto a bunda a cara nos muros chapiscados quando conseguíamos ou não cair fora das mãos da polícia que preferi lançar-me dessa seiva bruta como o homem-bomba atirado aos estertores do mundo pelo canhão de circo.

Itália não durou tanto quanto planejada. Sei, que o seio das minhas transações, o inventário irremediável, remexido, exposto, árvore genealógica revisitada deu-me a fúria e a potência na voz à qual fiquei conhecido. Felizmente não se lembrarão da inocência frágil e fanhosa que se deleitava à minha espera nas horas mortas do dia passadas longe do microfone, faróis fumaça, luzes e refletores do show.

O Rio de Janeiro é um Faroeste Caboclo, e o Brasil saiu pior que a encomenda. Porque Daniel Na Cova dos Leões passou de texto bíblico para filme em três D e agora nos visita em nossa casa a qualquer minuto, pronto a nos devorar como o tesouro da união imposto aos umbrais da milha milho fossa fosso atroz aterrador. Tudo aterroriza o terror. Menos medo. Por isso escondia-me debaixo da cama.

Pois vim para a Rússia. O Equilíbrio distante, mas a pintura ajuda-me a melhorar, a sulfurar as feridas, pular as gangrenas as bocas de lobo do trânsito infernal da nossa mente e o céu pode meço estar num vento no litoral. Passarinho canta triste, anda fraqueja mexe as perninhas ínfimas superadas pelo corpo amarelo e o bico que leva minhoca ao ninho.

Meu nome é Renato,
mando lembranças, desejo melhoras.
O Império de Roma segue forte.

Urbana Legio Omnia Vincit

Música brasileira

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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