“Fui pra debaixo da Lua
E pedi uma inspiração:
– Essa Lua que nas poesias dantes fazia papel
principal, não quero nem pra meu cavalo; e até logo, vou gozar da
vida; vocês poetas são uns intersexuais…
E por de japa ajuntou:
– Tenho uma coleguinha que lida com sonetos de dor
de corno; por que não vai nela?” Manoel de Barros
A expressão “dor de cotovelo” está tão impregnada no alfabeto de ditados brasileiros que mesmo quem nunca ouviu Lupicínio Rodrigues já a sentiu. Embora alocado na tradição e no aspecto mais conservador da cultura do país, tanto na forma quanto nas letras, Mauro Zockratto e Luísa Mitre oferecem à nova geração a oportunidade de conhecer este senhor gaúcho de bigode, paletó e gravata em “roupagem nova”, para usar outra expressão bem batida. Só que a batida desses três artistas não tem nada de “mais do mesmo”. Lupicínio Rodrigues é aquele que anda entre o “grotesco e o sublime”, como já dito por muitos, de uma maneira cuja adjetivação é impossível, restando-nos recorrer a seu nome e sua assinatura, melhor ainda, ao que ele mesmo criou e disse: dor de cotovelo. Enquanto Mauro Zockratto e Luísa Mitre desfilam em 16 músicas vários ritmos: choro, tango, guarânia, valsa e mais, muito mais.
O hábito de encostar o cotovelo nas mesas dos bares e lamentar durante horas a perda da mulher amada, além, obviamente, de homenageá-la com impropérios e canções, e ingerir doses de uísque nesse processo, legou ao compositor a dor no referido membro e a alcunha do estilo. Mauro Zockratto e Luísa Mitre retratam essa atmosfera típica de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, terra natal do eleito, mas que se estende a todas às regiões justamente pelo caráter que é de quintal e do mundo, afinal trata do coração, à base de piano e voz. Voz e pianos esses que objetivaram essa criação após muito o ouvido aguardar, receber e memorizar os acordes e frases de Lupicínio Rodrigues. Esse senhor centenário que não ligará que vire fox-trote o seu samba “Foi Assim”, ou a levada jazz incorporada a “Se Acaso Você Chegasse”. Afinal a roupa é diferente, mas o coração ainda é o mesmo.
Raphael Vidigal
Texto de apresentação do espetáculo.
13 Comentários
Legal!! Obrigada Raphael!!
Excelente, Vidigal. Tenho certeza que com essa força, eu e Luísa teremos a chance de fazer um trabalho que criará maiores expectativas aos bons ouvidos. Valeu mais uma vez, amigão!!! Abração.
Grande mestre Lupicinio.
Linda foto! Adoro os teus textos.
Já dei uma olhada, e já gostei!!!!
Grande interpretação da dupla Mauro Zockratto e Luísa Mitre que, sem perder o tom e o sentimento característico lupiciniano, colocou um tempero bossanovista, além da voz de Mauro lembrar o próprio criador da “dor de cotovelo”.
Segundo Platão, Eros, o Deus do amor, é filho de Pênia, a penúria, a privação do necessário, com Portos, o recurso, a engenhosidade, a criatividade. Assim, se pelo lado materno, o amor seria sempre um mendigo, um indigente sempre em busca de constante satisfação; pelo lado paterno teria a habilidade capaz de criar e inovar. E, sem o dom da imortalidade, Eros está sempre morrendo e renascendo. É desta forma que se expressa Lupicínio em sua obra, cantando o amor não correspondido que renasce sempre e, apesar de desejado e fulgurante, causa dor e faz sofrer. Como bem se expressou Raphael Vidigal: “Lupicínio Rodrigues é aquele que anda entre o grotesco e o sublime.”
Mesmo morando sempre em Porto Alegre, Lupicínio conseguiu projeção nacional, tendo suas canções sido gravadas por grandes nomes da época, como Francisco Alves, Ciro Monteiro, Nora Ney, Isaurinha Garcia e principalmente José Bispo Clementino dos Santos, Jamelão, intérprete de sambas-enredo da Mangueira, que detestava ser chamado de “puxador de samba”. Isto ocorreu, em primeiro lugar pela qualidade da obra do gaúcho, mas um dos canais mais importantes para a difusão de sua música eram os marinheiros que frequentavam a zona boêmia de Porto Alegre, onde suas canções alcançavam grande repercussão. Graças a isto o samba “Se acaso você chegasse” foi gravado em 19 de julho de 1938, por Ciro Monteiro. Outro meio de divulgação de sua obra eram os artistas cariocas que visitavam Porto Alegre naqueles anos de 1930. Em 1932 Lupicínio, com 18 anos, apesar do regime severo do exército, encontrava tempo para os amigos e a música e continuava frequentando o bar da Praça Garibaldi e se apresentando como cantor no conjunto Catão, quando receberam a visita de Noel Rosa. O “Poeta da Vila” impressionou-se com a qualidade do que ouviu e expressou-se: “Esse garoto é bom, esse garoto vai longe!”
Lupicínio…
Amo LUPICINIO RODRIGUES! !!!
Em uma levada diferente, mas muito bonita a interpretação e acompanhamento!!!!!! Música boa!!!!!! Corações contentes!!!!! Raphael Vidigal, de mais hem?????
LINDO SUA MENSAGEM
Grande Lupicínio!
Uma noite de muita paz e um sono tranquilo! Boa noite meu amigo!!!
Parabéns, Raphael Vidigal
Suas entrevistas são ótimas!!