“Mas é que eu não sabia que se pode tudo!” Clarice Lispector
Pop-pós-art não é um movimento, nem alistamento, nem chamada. Até porque essas degenerações já estão passadas. Pop-pós-art pode ser entendida como um novo gênero, ou pra ficar mais bonito ainda, nova arte da colagem.
Sua influenciadora, a pop-art criava leituras novas através da imagem de ícones populares. A pop-pós-art não descarta nem limita populares, eruditos ou celebridades. Cria leituras e imagens novas a partir de frases, citações, textos, poemas, figuras, figurinhas e figurões pop e cult.
A matéria prima do processo é a colagem, que redimensiona o material ao deslocá-lo de seu lugar de origem, criando assim um novo (ou novos) significado (s) para ele.
A idéia da crítica depende do estilo do autor, podendo ser cínica ou feroz. Dessa forma, a utilização das colagens funciona não apenas como crítica àquele que está sendo referido, mas também como homenagem, e mais ainda, como explicitação das referências do autor, mostrando de onde partiu a idéia daquela sentença. (conferindo teor confessional ao gênero)
Sendo assim, Pop-pós-arte é uma forma de subjetivismo objetivo, o que lhe garante uma aura surreal, pois as colagens não aparecem como tal, mas sim como sequência natural, parte presente do texto. Pode-se entender que tudo vem de um mesmo e onipresente autor ou que se tem uma construção de diversos autores que dialogam em uníssono. É uma espécie de individualismo coletivo. Mais surreal impossível!
A ordem dos fatores altera o resultado, revela-se portanto um contexto extremamente estético. Podem-se criar vários textos utilizando-se as mesmas sentenças em ordens alteradas. De cima pra baixo uma coisa. De baixo pra cima outra coisa.
As ligações entre as frases do autor e das referências que ele escolhe para colar tendem a gerar sentidos múltiplos, pois a lógica da estrutura é a do pensamento onírico. Têm-se dessa forma textos recheados por um universo sonhador e fantasioso, aonde há a mistura e por vezes a fusão de diversos elementos/personagens. Fernanda Young bate-papo com Oscar Wilde, e Miguel Falabella segue o twitter de Sylvia Plath. Como num sonho têm-se o sutil e o extravagante, a crítica e a homenagem, o azedo e o doce, além do que pode ser tudo numa palavra só: Salvador dali que me mata.
Em outras palavras, Pop-pós-art é o velho, a meia-idade e o novo.
Parte do princípio que não se faz nada novo. Faz-se o que falta.
Afinal de contas, novo não é o que se inventa, é o que vem depois.
E segue-se o Espelho Mágico das idéias, de Mario Quintana: “Qualquer idéia que te agrade, por isso mesmo… é tua. O autor nada mais fez que vestir a verdade que dentro em ti se achava inteiramente nua…”
Eu sou a geração da minha juventude.
Ser original sempre cansa. (quem quiser coloque a vírgula onde quiser.)
Raphael Vidigal
Manifesto escrito em 2009.
Imagens: montagem com algumas obras da Pop-Art e do Surrealismo; e foto do escritor norte-americano Truman Capote, respectivamente.