“Olhai que de asperezas me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes, nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido lenho.” Camões
A voz rouca e encorpada de Eduardo Araújo já ecoava pelos campos da fazenda de seu pai em Joaíma, no interior de Minas Gerais, desde muito cedo, e logo o fez perceber que a carreira de veterinário talvez não fosse a melhor opção para sua vida. Partiu então em busca de outras terras e resolveu cavalgar pelas notas e acordes dançantes de um ritmo novo que surgia com força e ousadia no cenário musical brasileiro: a Jovem Guarda. Liderada por nomes como Roberto Carlos e Erasmo Carlos e tendo ainda em seu elenco as presenças marcantes de Renato e seus Blue Caps, Ronnie Von, The Fevers, Jerry Adriani, além das musas Wanderléa, Rosemary e Sylvinha Araújo, dentre outros, a Jovem Guarda logo emplacaria nas paradas de sucesso e faria com que um desesperançado Eduardo Araújo deixasse novamente a fazenda de seu pai para trás e voltasse ao Rio de Janeiro, atrás do sonho de cavalgar na crista da onda daquelas canções. O que aconteceu efetivamente no ano de 1967 quando estourou com o seu primeiro sucesso, a canção “O bom”, de Carlos Imperial, que traduzia o comportamento e a postura musical e artística daquela nova geração de músicos.
“Ele é o bom, é o bom, é o bom
“Ele é o bom, é o bom, é o bom
Ah!, Meu carro é vermelho, não uso espelho pra me pentear
botinha sem meia e só na areia eu sei trabalhar”
Eduardo Araújo sempre se mostrou um artista inventivo e original que além de comandar o programa o “Bom”, na TV Excelsior, ao lado de sua futura esposa Sylvinha Araújo, também começava a fazer experimentos na música brasileira. Tendo dito em 1971 que Luiz Gonzaga era o “papa da verdadeira música brasileira” ele já demonstrava a sua vontade de misturar diversos gêneros sob a batuta do rock ao gravar com virilidade músicas como “Asa Branca”, “Juazeiro”, ambas de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e “Ave Maria no morro”, de Herivelto Martins, dentre outras. No entanto, o maior sucesso autoral de Eduardo Araújo até hoje ainda é a música “Vem quente que eu estou fervendo”, em parceria com Carlos Imperial, verdadeiro Midas das paradas de sucesso da música brasileira.
“Se você quer brigar
E acha que com isso
Estou sofrendo
Se enganou meu bem
Pode vir quente
Que eu estou fervendo”
Esse espírito inventivo e desbravador envolveria também Sylvinha Araújo, que havia ficado nos primeiros lugares da parada de sucessos em 1968 com a música “Minha primeira desilusão”, e agora gravaria versões pungentes e inusitadas das músicas “Risque”, de Ary Barroso e “Paraíba”, também de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, o que levaria o jornalista Nelson Motta a compará-la à musa do blues dos anos 70, Janis Joplin. E Sylvinha Araújo não era mais apenas a cantora que imitava Rita Pavone, ganhava assinatura e público próprios.
“Hoje eu mando um abraço
Pra ti pequenina
Paraíba masculina
Mulhé macho, sim sinhô”
Essa vontade de se remeter às raízes da música brasileira intensificou-se na década de 80, quando Eduardo Araújo mergulhou de cabeça na chamada country music e retornou definitivamente para onde tudo começou. Sempre apaixonado por cavalos e o ambiente da fazenda, com o qual conviveu desde a infância, Eduardo Araújo passou a se notabilizar por fazer agora uma música com a qual o brasileiro do interior sempre se identificou e que passava a invadir também o sentimento do homem criado na cidade, a partir da mistura de dois gêneros, o country e o rock. Sem perder a veia inovadora, Eduardo gravou uma versão em twist da música “Maringá”, de Joubert de Carvalho, e obteve grande sucesso ao homenagear uma das mais nobres raças de cavalo, o “Mangalarga Marchador”.
“Ô Maringá, Maringá
Depois que tu partiste
Tudo aqui ficou tão triste
Que eu garrei a imaginar
Ô Maringá, Maringá
Para haver felicidade
É preciso que a saudade
Vá bater noutro lugar”
Os cabelos lisos e penteados de lado com direito a olhar galanteador deram lugar ao chapéu de boiadeiro e ao bigode, mas a essência do rock continua em suas músicas que misturam com qualidade irretocável os melhores gêneros da música brasileira. Com guitarra em punho, violão a tiracolo e voz sempre imponente e verdadeira Eduardo Araújo segue há 50 anos por essa estrada do rock, guiado pela voz jovial e inesquecível de Sylvinha Araújo. Eduardo e Sylvinha Araújo, dois pioneiros do rock brasileiro e da mistura de gêneros, serão sempre lembrados no hall dos nomes mais importantes da música brasileira.
“Eu sou terrível
Vou lhe dizer
Eu ponho mesmo
Pra derreter
Estou com a razão no que digo
Não tenho medo nem do perigo
Minha caranga é máquina quente
Eu sou terrível”
Raphael Vidigal
Lido na rádio Itatiaia por Acir Antão em 27/07/2010.
12 Comentários
Ótimo! Ótimo! Ótimo !!!!!!!!!!!!
Eduardo e Sylvinha Araújo sao ótimos msmoo!!!!!!
Adoro as músicas!!!
acho q só faltou falar do “Splish Splash”, mas tá ótimo!!!
“O Bom” e “vem quente que eu estou fervendo” já retratam muito bem o estilo de música deles!
=D
Eduardo e silvinha…vozes inesquecíveis da ..dois ícones importantes da nossa Jovem guarda..
ÓTIMO mesdmo esta homenagem, tive a oportunidade de crescer ao lado destes ícones da música.
Silvinha…. Uma Mulher de Guerreira e Vencedora…
Abraços e Parabéns pelo trabalho…
Alex Silva
Joaíma – MG (Terra Natal de Eudardo Araújo)
Muito bom , adoro os dois !!
Sylvinha deixou saudades
Show
Belo texto do Raphael Vidigal sobre Eduardo Araújo e Silvinha, vale a pena ler.
esse foi o amor que vi desde que começou puro e verdadeiro único e ira por muitas vidas além da outra vidae voceis anda falam que isso não existe a prova esta ai amigos tai quando verdadeiro é eterno
Também forografei esse casal maravilhoso, saudosa Silvinha. Boa Noite
Ei rapha!
Valeu! Obrigada pela lembrança
Gosto muito dos seu gosto musical
Hahah
Meus ídolos!!!!
Muito bom!!!
Um excelente texto. Você é ótimo Raphael Vidigal!