Núbia Lafayette inspirou Alcione e foi musa das baladas românticas

*por Raphael Vidigal

“Frente a frente, derramando enfim todas as palavras, dizemos, com os olhos, do silêncio que não é mudez.
E não toma medo desta alta compadecida passional, desta crueldade intensa de santa que te toma as duas mãos.” Ana Cristina Cesar

A cantora Núbia Lafayette, natural de Assu, no Rio Grande do Norte, foi devota de um estilo de cantar recorrente nos grandes cantores de sua geração, fazendo uso de sua voz extensae sua capacidade para interpretações dramáticas. Colecionou sucessos ao longo da carreira como “Casa e comida, ”Devolvi”, “Seria tão diferente”, “Solidão”, e tem Alcione como uma das milhares de fãs declaradas.

“Casa e Comida” (bolero, 1972) – Rossini Pinto
Núbia Lafayette cantou em 1972 um dos maiores sucessos de sua carreira, o bolero “Casa e comida”, de autoria de Rossini Pinto. A música conta a história de uma mulher cansada de sofrer nas mãos do marido que não corresponde ao seu amor e decreta: “não é só casa e comida que faz a mulher feliz.”

“Lama” (samba-canção, 1952) – Ailce Chaves e Paulo Marques
Um dos sambas-canções mais celebrados do repertório de fossa de todos os tempos, “Lama” trouxe a assinatura de uma mulher, algo raro numa época que era ainda mais machista do que a atual. Ailce Chaves foi uma compositora prolífica, gravada por estrelas como Angela Maria, Linda Batista, Elvira Pagã e Ciro Monteiro. No entanto, nenhuma composição atingiu o sucesso de “Lama”, parceria com Paulo Marques lançada pela cantora Linda Rodrigues em 1952. Ao longo dos anos, a música recebeu regravações celebradas de Núbia Lafayette, Zeca Pagodinho e Angela Maria. A mais inusitada interpretação, porém, ficou a cargo do experimentalista Arrigo Barnabé, que a registrou no ano de 1992.

“Devolvi” (samba-canção, 1960) – Adelino Moreira
Na década de 1960, o já consagrado Adelino Moreira, graças a um sem número de sucessos lançados por Nelson Gonçalves, deu uma guinada em sua carreira. “Devolvi” trazia uma voz feminina interpretando seus versos: era a de Núbia Lafayette, que na gravadora era tida como a aposta para ser “uma Nelson Gonçalves de saias”. Dolorida como as outras canções do repertório de Adelino, a música foi um impulso na trajetória da intérprete.

“Fica Comigo Esta Noite” (samba-canção, 1961) – Adelino Moreira e Nelson Gonçalves
Angela Maria, Núbia Lafayette, Maria Bethânia, Angela Ro Ro, Tetê Espíndola e até o grupo punk Camisa de Vênus gravaram suas canções, mas é impossível dissociar o nome de Adelino Moreira da voz de Nelson Gonçalves. Tanto que o cantor gaúcho ganhou o epíteto de “O Boêmio”, após o estrondoso sucesso de “A Volta do Boêmio”, música de Adelino lançada por Nelson em 1957. Além de intérprete principal de Adelino Moreira, Nelson Gonçalves é seu parceiro em mais de vinte composições. A mais conhecida certamente é “Fica Comigo Esta Noite”, que virou tema de musical e título de filme erótico. Em 1980, Angela Ro Ro sublinhou a sensualidade da canção ao reforçar os tons de bolero contidos em seu ritmo. Outros artistas deram a sua versão para a história, como Agnaldo Timóteo, Simone, Núbia Lafayette e Fábio Jr.

“Ocultei” (samba-canção, 1954) – Ary Barroso
“Ocultei” conta a história da mulher abandonada, largada, trocada por outra. A mulher que se vê posta de lado, desprezada, e que relembra com angústia e decepção o passado feliz que viveu. O passado que se transformou em desejo de vingança e agressão. É um apelo para que seu antigo amor pague por todo mal que lhe fez, provando do beijo o seu gosto de morte, o veneno que lançou contra ela e definiu sua sorte. É um apelo para que ela não seja a única a sofrer nessa história, que seu amor pereça, pois já não quer mais seu bem. Foi gravada por Elizeth Cardoso, Núbia Lafayette, Emílio Santiago e Rosa Passos. O registro de Elizeth ocorreu em um compacto de 78 rotações, lançado no ano de 1954.

Lido na Rádio Itatiaia por Acir Antão dia 23/01/2011.

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5 Comentários

  • Agora compreendo pq minha mãe gostava de ouvir Núbia Lafayette. Linda voz…Estou achando ótimo aprender um pouco mais sobre compositores e intérpretes tão bons. Obrigada, Raphael! Beijos…

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  • Muito bom. Como disse na biografia que escrevi, “Casa e Comida” é o hino da mulher mal casada.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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