Moreira da Silva (Samba)

samba breque

Vou te contar a história de um malandro astuto
Que subiu o morro
E arrumou confusão
Tudo porque bateram na sua nêga
E ele então, foi tirar satisfação

Esse malandro fez muito samba
Depois de cantar com outros bambas
Wilson Batista, Macalé e Miguel Gustavo
Cantou a ópera com Bezerra e Dicró

“Cuidado, Moreira!”

Mas nunca largou o linho branco
E o chapéu panamá na cabeça brasileira
Vou lhe dizer sem sugestão
Qual é o nome desse figurão

Fala: “Derrepenguente as coisas acontecem e nós da Hora do Coroa, estamos aqui pra falar pra vocês: passado, futuro, presente, tudo depende.”

Pode chamar de Moreira da Silva
Alguns o chamam Morengueira velho oeste
É o herói do cinema americano
É o herói da música que segue

Cambaleando com estilo
Vem com pompa e circunstância

Segura a faixa que nosso Moreira
Não bebe, não fuma, não perde a noite de sono
E não há nada que o irrite mais
Que um certo amigo urso não pagar a condição
“malandro que é malandro, não é malandro”

Breque!

Chega de papo “vamo” ouvir seu carteado!
Etelvina!

Arrasta a sandália (samba de carnaval, 1933) – Aurélio Gomes e Baiaco
Depois de se virar como motorista de táxi e auxiliar de garagem, entre outras profissões, Antônio Moreira da Silva, que perdeu o pai jovem, quando tinha 11 anos de idade, lançou seu primeiro sucesso como cantor, no ano de 1933. “Arrasta a sandália” foi um samba de carnaval de autoria de Aurélio Gomes e Baiaco que esbanjava a condição do protagonista: “arrasta a sandália, minha morena, estraga mesmo e não tenha pena…” “que eu te dou outra de veludo, enfeitada de fita, e mando vir lá da Bahia”.

Implorar (samba de carnaval, 1935) – Kid Pepe, Germano Augusto e João Gaspar
Em 1935, Moreira da Silva venceu o carnaval cantando o samba “Implorar”, de Kid Pepe, Germano Augusto e João da Silva Gaspar. Na época a autoria foi contestada por Divino, que dizia ser ele, junto com seu falecido primo Cedar Silva, diretor da escola de samba Mocidade Louca, o autor da canção. Acontece que Divino estava no leito de um hospital, e não teve muito tempo para brigar pela paternidade, que acabou sendo um belo presente para a música brasileira.

Acertei no milhar (samba, 1940) – Wilson Batista e Geraldo Pereira
A invenção do improviso foi por mero acaso, segundo o próprio Moreira da Silva, responsável direto pela popularização do “breque”. De acordo com o que ficou na história, ele teria remendado com astuto falatório os versos de “Jogo proibido”, em 1937. E foi esse exímio talento que convenceu o radialista César Ladeira a oferecer-lhe seguinte valor para cantar na Mayrink Veiga, ao que ele respondeu: “Ora, César, não vês que eu sou o tal?!”. Como na canção de Wilson Batista e Geraldo Pereira de 1940 ele acertou no milhar e ingressou de vez nas paradas de sucesso. Só que a astronômica quantia não passou de um sonho.

Amigo Urso (samba, 1941) – Henrique Gonçalvez
Moreira da Silva viaja até o pólo Norte para cobrar de certo amigo Urso que não lhe dê o calote. O samba pitoresco de Henrique Gonçalvez foi mais um êxito da carreira de Moreira que enfim deslanchava. Após um começo trôpego como cantor de umbandas e serestas ele encontrou seu verdadeiro terreno. E a década de 40 seria fértil em acertos musicais, especialmente em 1941.

Esta noite eu tive um sonho (samba, 1941) – Moreira da Silva e Wilson Batista
As viagens e os sonhos de Moreira da Silva estavam expostas em suas músicas. Em tom de galhofa ele almeja partida para a Alemanha no samba “Esta noite eu tive um sonho”, em parceria com Wilson Batista de 1941. E até citação em alemão cabia na bagunça arrumada de Morengueira.

Na subida do morro (samba, 1952) – Moreira da Silva e Geraldo Pereira
Trocar músicas na década de 50 era algo comum, segundo o próprio Moreira da Silva. Era essa relação que ele mantinha com Geraldo Pereira. Um colocava o dedo numa autoria daqui, outro dali, e assim estabeleceu-se a parceria. Uma delas foi “Na subida do morro”, samba que conta com a graça maliciosa de Moreira da Silva, as intempéries de um triângulo amoroso que se transforma em crime passional. A canção politicamente incorreta foi um dos maiores sucessos de sua carreira, lançada em 1952.

Olha o Padilha (samba, 1952) – Moreira da Silva, Ferreira Gomes e Bruno Gomes
No samba “Olha o Padilha”, Moreira da Silva brinca com a fama nada boa de certo delegado, que dizem ter realmente existido. A música foi composta em 1952 ao lado de Ferreira Gomes e Bruno Gomes, e aborda como de costume as asperezas vividas no cotidiano do morro, sempre com muito bom humor.

Cidade Lagoa (samba, 1959) – Sebastião Fonseca e Cícero Nunes
“Cidade Lagoa” flagra o povo do Rio de Janeiro em apuros. Tudo porque a cidade foi de novo acometida por uma enxurrada. Os versos irreverentes de Cícero Nunes e Sebastião Fonseca debocham da situação repetida e apresentam novas soluções: comprar lancha, canoa ou ser girafa! Gravada por Moreira da Silva em 1959 e regravada por Jards Macalé em 1998, a música retrata uma realidade inalterada.

O Rei do Gatilho (samba, 1962) – Miguel Gustavo
Inspirado nos filmes de faroeste americano, Miguel Gustavo criou uma épica epopéia para seu personagem. Moreira da Silva vestiu a estampa de Kid Morengueira e saiu atrás de justiça. Com direito a um amigo Índio, cavalo, mocinha temerosa e citação de Hitchcock, a história bateu recorde de bilheteria na discografia do malandro herói, que ainda por cima terminava com a viúva do bandido que matou: “que até hoje ninguém sabe quem morreu, eu garanto que foi ele, ele garante que fui eu…”. Ou não! Tudo isso em 1962.

Morengueira contra 007 (samba, 1968) – Miguel Gustavo
Miguel Gustavo teve como modelo de composição inserir diversas personalidades em sambas feitos sob medida para Moreira da Silva cantar. No contexto das histórias de aventura, o humor era o grande trunfo. Essa fórmula esteve inclusive presente na música “Super-heróis”, de Raul Seixas e Paulo Coelho. A exemplo das bem sucedidas sequências cinematográficas, o herói Kid Morengueira cumpria sua missão ao final, fosse contra 007 ou qualquer outro. Mais uma vez em 1968 ele não se fez de rogado. E assim foi até o fim da vida, aos 98 anos, disposto como nunca a uma boa malandragem.

Malandro samba

Raphael Vidigal

Lido na Rádio Itatiaia por Acir Antão dia 10/04/2011.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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