Maria Creuza eternizou sucessos de Vinicius e Antônio Carlos & Jocafi

Na Esplanada, sonora

*por Raphael Vidigal

“Desabafa no meu peito
Essa amargura tão louca,
Que é tortura nos teus olhos
E riso na tua boca!” Florbela Espanca

Maria Creuza dos olhos fundos, brasileira, baiana, filha da poesia, querida do Poetinha. Romântica, abusada, nunca reprimida pela força do cantar que ultrapassa barreiras ideológicas, territoriais e de gênero. Maria Creuza na Esplanada, sonora. Maria Creuza, cantora. Não extingue admiração, há encantamento.

Você abusou (1971, samba) – Antônio Carlos e Jocafi
Maria Creuza conheceu Antônio Carlos na Bahia, e com ele estabeleceu casamento que ultrapassou as convicções musicais. Os dois tiveram três filhos e vários sucessos nas rádios do Brasil e do mundo, principalmente depois que migraram para o Rio de Janeiro. O primeiro grande êxito foi “Você abusou”, que Antônio Carlos compôs com Jocafi em 1971. O canto de Maria Creuza explicitava a beleza da composição que se esvairia de aspirações intelectuais. Ia direto ao coração.

Dom de iludir (samba-canção, 1976) – Caetano Veloso
Caetano Veloso se traveste de mulher para responder ao samba lamentoso de Noel Rosa. É a mulher que se defende das acusações do homem e apela à ele para que a deixe em paz, não mais a olhe, não a procure, não fale com ela. Maria Creuza cantou verso por verso da canção em 1976, com a habitual categoria.

Eu sei que vou te amar (samba-canção, 1959) – Vinicius de Moraes e Tom Jobim
Vinicius de Moraes foi apresentado a Maria Creuza em 1969, e a convidou para cantar com ele e Dori Caymmi no Uruguai. O Poetinha logo sem embeveceu pelos dotes musicais da cantora e passou a excursionar com ela e o compositor Toquinho por vários países europeus, onde os aplausos eram a tônica dos espetáculos. Dentre as muitas canções que Creuza gravou de Vinicius uma das mais belas foi “Eu sei que vou te amar”, parceria com Tom Jobim de 1959 que ganhou nova leitura em 1972, com o poeta recitando os versos  em relevo de “Soneto de Fidelidade”. Uma preciosidade.

Onde anda você (bolero, 1976) – Vinicius de Moraes e Hermano Silva
Maria Creuza nasceu em Esplanada, na Bahia, no dia 26 de fevereiro de 1944. Ainda criança, mudou-se com a família para a capital, Salvador, onde conheceu o seu futuro marido, Antônio Carlos, da dupla com Jocafi. A dupla, aliás, concedeu a Maria Creuza um dos maiores sucessos de sua carreira, “Você Abusou”, que ela lançou em 1972. Depois, ela voltou ao topo das paradas com “Otália da Bahia”, mais uma parceria de Antônio Carlos & Jocafi, lançada pela cantora em 1976, com versos, ao mesmo tempo, simples e belos. Vinicius de Moraes e Hermano Silva procuravam em 1976 a moça que os deixara louco de tanto prazer. Até que encontraram em Maria Creuza a cantora exata para interpretar os versos, com a dose certa de leveza e emotividade.

Pouco importa (samba-canção, 1975) – Cartola 
Maria Creuza sussurra a poesia derramada do samba-canção “Pouco importa”, do mestre da Mangueira, Cartola. Após a indiferença dos primeiros versos, vem a consagração erguida de um coração que superou ferimentos mesquinhos: “O ciúme e o desprezo são armas de dois gumes, quanto mais se degladiam, aumentam os queixumes, felizmente eu sou dotada de resignação, para não ferir meu coração”. Com o encerramento de um maravilhoso solo de saxofone.

Otália da Bahia (samba-canção, 1976) – Antônio Carlos e Jocafi
Uma música que não cita em nenhum momento o título. Essa foi a peripécia de Antônio Carlos e Jocafi ao comporem em 1976 a levada “Otália da Bahia”, com os irresistíveis versos “moça não merece medo, o amor quando não passa não merece medo, uma briga de pirraça não merece medo…” cantados por Maria Creuza.

Lido na Rádio Itatiaia por Acir Antão dia 26/02/2012.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]