Irônico jornalista colecionou textos impecáveis e desafetos por onde passou
Há 15 anos morria o jornalista Paulo Francis, em Nova York. No banheiro da sua casa, ele agonizou os momentos finais antes de desvanecer nos braços de sua esposa, que o amparou e chorou como sugestiva parte do Brasil, sua terra natal.
Distante de agradar a todos, o jornalista inveterado, crítico de gregos e troianos, foi fiel e mordaz somente à sua própria filosofia. Como gostava de repetir, “apenas as pessoas inteligentes se contradizem”, e nessa área, Paulo Francis era inimitável.
Imitado por Chico Anysio, a confirmação aparecia. Só se configura o inimitável justamente na preferência dos humoristas de alta estirpe. Paulo Francis dizia: “a imitação é a maior forma de lisonja”.
Mas fora os trejeitos, manias e versos propositalmente dissonantes e irregulares, Francis escapava às tentativas inócuas de taxá-lo, defini-lo ou guardá-lo numa caixinha de perfume, espanada, com o pó retirado. Inicialmente fã do Trotskismo, aderiu completamente ao Capitalismo na segunda metade de sua vida. Adorador da música clássica de Wagner e das marchinhas de carnaval. Elege, herege, elegia a heresia em primeiro plano.
Dentre os inúmeros palavrões, vociferou com voz maquinada todas as vicissitudes, saliências e “locupletâncias” dos ativistas do Brasil. Sem o perdão da palavra equivocada, a indiferença passava longe de Paulo Francis.
O jornalista “inobjetivo”, com a clemência da incorreção, atormentava os fugazes crentes da careta carência e indiscrição que busca consolo na verdade única e indivisível. Francis sempre se postou como contra-ponto numa cultura de apóstolos.
Uma curva lancinante, entre o contorno e a linha pura, e púrpura, marcou a travessia do jornalista Paulo Francis no Brasil e em Nova York, para onde se mudou e residiu durante os últimos anos de sua vida. Purpurina, confete e serpentina foram jogadas para o alto no dia em que Paulo Francis se foi, uma terça-feira de carnaval, 4 de fevereiro de 1997, vítima de infarto aos 66 anos, com aquele sorriso debochado no rosto, como ele citava: rindo dos tolos de cara alegre.
Raphael Vidigal
9 Comentários
Paulo Francis era um gênio, uma pena que só fui conhecer a sua pessoa depois da sua morte. Jamais vou me esquecer de uma frase dele, “Se eu não conheço não presta”.
Adoro ele, pra mim é tipo ima versão digievoluída do Diogo Mainardi haha, que na minha humilde opinião tenta e muito imitá-lo. Pena que não há mais jornalistas como ele, inteligente, original, que pouco se importa com o que os outros pensam, do tipo dane-se opinião pública ou qualquer organização…
Summertime maravilhoso!!
Purpurina, confete e serpentina é o que seu texto merece! Adorei!!!!
Muito bom. Indico!!!
Para os jovens que não conheceram, para os velhos relembrarem… Paulo Francis por Raphael Vidigal
Mto legal! Estou compartilhando….
Meus agradecimentos a todos que passaram aqui e deixaram recados! Abraços
Genial…Genial Paulo Francis! Merece tudo o que é dito , escrito e lembrado dele. Beijos, Raphael!
Obrigado, Fátima! Beijos