Jorge Dória: o primeiro ator brasileiro

“Deixar cada impressão, cada semente de um sentimento germinar por completo dentro de si, na escuridão do indizível e do inconsciente, em um ponto inalcançável para o próprio entendimento, e esperar com profunda humildade e paciência a hora do nascimento de uma nova clareza: só isso se chama viver artisticamente, tanto na compreensão quanto na criação.” Rilke

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É do mais polêmico dramaturgo nacional a frase de que Jorge Dória era um canastrão. Nelson Rodrigues, numa de suas sandices graciosas afirmava com todas as letras que “o primeiro ator brasileiro tinha que ser canastrão”. Na continuidade da história contada por Antônio Abujamra a Paulo César Peréio no programa “Provocações” a revelação de que, dez anos mais tarde, ao assistir o mesmo Dória em cena, Nelson entrava chorando no camarim para corrigir-se: “Você não é mais o primeiro ator brasileiro!”.

Intérprete essencialmente cômico, com incursões marcantes por cinema, teatro e televisão, deu-se ao luxo de experimentar gêneros, tipos e de usar e abusar do carisma e principalmente do improviso. No palco Jorge Dória deixava “baixar o santo”, nas próprias palavras, e como de hábito defendia os princípios do humor, da graça e da liberdade. Do Lineu da primeira versão de “A Grande Família”, na década de 70, ao pai que não sabe onde errou em Zorra Total, nos anos 2000, a forma simples e enigmática de provocar o riso no povo.

Embora com menos freqüência, deu vida a personagens dramáticos e aventureiros, em peças e adaptações de Nelson Rodrigues para o cinema, principalmente na fase da pornochanchada, e em filmes icônicos, a exemplo de “O Assalto ao Trem Pagador” e “O Homem do Ano”. Mas com aquela maneira irônica de transmitir idéias e emoções permitia lentamente transparecer o ridículo dos fatos. O mesmo pode ser dito das incontáveis participações em novelas nas várias emissoras do país.

Também acumulou prêmios e elogios da crítica, por sua atuação no teatro em “A Gaiola das Loucas”, na TV em “Que Rei Sou Eu?”, e no cinema em “A Dama do Cine Shanghai”, entre outros, no entanto, é bom que se ressalte, para Jorge Dória o povo sempre exerceu poder e glória muito maiores que os engravatados de escritório. Como um personagem que ele mesmo era incapaz de deter, afirmava que uma vez que pisava no palco tinha como meta principal “divertir o público!”.

Talvez fosse mesmo um canastrão. Afinal afirmava Nelson: “- O canastrão nunca deixa ninguém dormir na platéia, se ele percebe alguém pegando no sono, logo come um pedaço do cenário”. A boca de Jorge Dória lentamente invade o sonho, e entre dentes arranca os aplausos.

PERSONAGENS (alguns):
1972 – Zé Pistola (Uma Rosa Com Amor)
1972 a 1975 – Lineu (A Grande Família)
1978 – Bubi Mariano (O Pulo do Gato)
1989 – Vanoli Berval (Que Rei Sou Eu?)
1989 – Padre Hilário (Tieta)
1990 – Alberico (Rainha da Sucata)
1994 – Santinho (Quatro por Quatro)
1997 – Ângelo Pietro (Zazá)
1999 a 2005 – Maurição (Zorra Total)

Jorge-Doria-morre

Raphael Vidigal

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3 Comentários

  • Bela homenagem, Raphael Vidigal! Vai deixar saudades…Excelente ator!

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  • Linda homenagem. Eu tive o privilégio de assistir Dória no teatro e isso certamente é determinante na minha visão artística. Que bom que ele viveu tanto! E parabéns a você pela linda homenagem!

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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