Ismael Silva: o “verdadeiro pai musical” de Chico Buarque

“Orvalho só resta nos olhos” Juraildes da Cruz

Ismael-Silva

Ismael Silva é considerado por Chico Buarque seu “verdadeiro pai musical”. O sambista nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, no dia 14 de setembro de 1905, foi um dos fundadores da primeira escola de samba, no final da década de 20, a qual deu o nome de Deixa Falar. Tido por Vinicius de Moraes como um dos três maiores sambistas de todos os tempos, Ismael tem em seu currículo o nome de músicos famosos como parceiros, destacando-se entre todos eles Noel Rosa e Lamartine Babo. Descoberto por Francisco Alves em 1927, o inventor do samba carioca como se conhece hoje é o autor de várias canções célebres do nosso cancioneiro, entre elas “Se você jurar”, em parceria com Nilton Bastos, “Adeus”, parceria com Noel Rosa e “Antonico”, um de seus últimos sucessos. Depois de ser regravado por artistas como Beth Carvalho, Clara Nunes e Cristina Buarque nos últimos anos de sua vida, Ismael Silva morreu no dia 14 de março de 1978, aos 72 anos, e para sempre será lembrado como um dos grandes nomes da música brasileira. Se estivesse vivo, ele completaria 105 anos nesse mês de setembro.

Antonico (samba, 1950) – Ismael Silva
Composto em 1950 por Ismael Silva, o samba “Antonico” foi registrado por ele próprio em disco em 1973, fruto do espetáculo “Se você jurar”, dirigido por Ricardo Cravo Albin. Em 1967, Elza Soares já o havia gravado no disco “Elza, Miltinho e Samba”, em que cantava algumas músicas ao lado do cantor Miltinho. Apesar das constantes negativas de Ismael, especula-se que a música seja autobiográfica, devido às dificuldades financeiras que o compositor passou após sair da prisão. Em uma carta escrita por Pixinguinha em 1939, endereçada ao musicólogo Mozart de Araújo, ele dizia: “Espero que o que puder fazer pelo Ismael seja como se fosse por mim.” Quase os mesmos versos presentes no samba “Antonico”.

Se você jurar (samba, 1931) – Ismael Silva e Nilton Bastos
O samba “Se você jurar”, composto em 1931, tornou-se uma das músicas mais conhecidas do repertório de Ismael Silva. Grande sucesso no carnaval daquele ano, cantada pela dupla Mário Reis e Francisco Alves, “Se você jurar” recebeu diversas regravações, entre elas as de Beth Carvalho, João Bosco e Casuarina. Além disso, alimentou-se por muito tempo uma polêmica sobre a autoria da canção. Orestes Barbosa e Mário Reis afirmavam que ela era apenas de Nilton Bastos, Francisco Alves dizia que era dele e de Nilton, e Ismael Silva garantia que a compusera ao lado de Nilton.

Ismael-Silva-Nelson-Cavaquinho

Raphael Vidigal

Lido na rádio Itatiaia por Acir Antão em 26/09/2010.

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20 Comentários

  • eu sabia que clara tinha gravado Ismael mas no disco o nome dele vinha com s smael silva acho

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  • O vídeo com áudio da voz do próprio Ismael é uma preciosidade e é sempre bom falar do Grande Ismael Silva, uma dos maiores nomes da música brasileira, responsável, junto com Noel Rosa pela ascensão de Francisco Alves, o “Rei da Voz”, ao ponto mais alto da música brasileira no período áureo do rádio e do disco nos anos de 1930.
    Para que tenhamos uma noção da importância de Ismael é bom relembrarmos o episódio ocorrido entre Mário de Andrade e Lúcio Rangel, registrado em Nova História da Música Popular Brasileira – Ismael Silva – Abril Cultural, Editor Victor Civita – São Paulo – 1970.

    A caminho do Bar Amarelinho, antigo ponto de encontro, na Cinelândia, dos intelectuais e boêmios do Rio de Janeiro, o escritor paulista Mário de Andrade percebe de longe a presença de Lúcio Rangel, jornalista, crítico musical, cronista apaixonado pelo samba e pelos sambistas de sua cidade. Mário aperta o passo: era exatamente Lúcio que ele desejaria ver após o encontro casual de momentos antes.
    – Lúcio, ó Lúcio! Sabe quem encontrei agorinha mesmo? O Ismael, o Ismael Silva!
    Lúcio não se perturba e sua frieza surpreende Mário de Andrade, que estaca com os braços abertos a balançar em torno do corpo alto e magro. No rosto comprido e fino, em que se destaca o nariz grande, há uma expressão de contrariedade. Lúcio Rangel parece não entender o que ele diz. Mais do que isso: corta a conversa com uma frase seca:
    – Não conheço este Ismael.
    E continua a beber seu chopinho gelado. Mário de Andrade esbraveja:
    – Ora, Lúcio, logo você não conhecer o Ismael Silva, o grande Ismael Silva!
    Súbito, Lúcio Rangel se levanta, fica em posição de sentido, prestando reverência àquele nome:
    – Ah, esse eu conheço: O grande Ismael Silva!

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  • Vc é demais,Garoto,vou compartilhar.Eu queria que vc ouvisse minha primeira parceria com Ana Terra e uma outra com Fernando de Oliveira,parceiro de Rosa Passos. Um grande abraço Raphael.

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  • Ré-ré-ré; Já li. E ouvi coisas dele esta semana. Muito bom o texto e a vida dele parece que foi meio sofrida. Ah, desconfiam que o Antônico, na verdade, era um amante dele, mas nada provado. Abraços.

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  • Oi Raphael, pelo visto Chico deve ter mesmo falado essa frase quando gravou o depoimento para o MIS, com 22 anos. Só sei que ele tinha mesmo dado um grande crédito ao Ismael, mas sei que depois ele disse que falou aquilo um pouco pra se livrar da fama, que estava se criando no início da carreira dele, de “novo Noel Rosa”. Mas isso é de menos, porque ele amava Ismael, tanto quanto Noel. Da mesma forma, Papai, que junto com Manuel Bandeira, frequentava o Café Nice, onde conheceram Ismael. Os dois tinham mania de se ajoelhar e chamar “Santo Ismael” quando se referiam a ele.

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  • Muito obrigada, por dar a conhecer estas pessoas que de outra forma nem saberiamos que tinham existido. Continue com o seu excelente trabalho.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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