Isaurinha Garcia criou estilo único de emocionar com sotaque paulista

Isaurinha cantora

*por Raphael Vidigal

“A esperança é a coisa com plumas…” Emily Dickinson

Carmen Miranda e Aracy de Almeida enchem a cabeça da menina que enche garrafas de vinho. Logo ela está cantando em auditórios, rádios e discos. A Personalíssima Isaurinha Garcia não esqueceu as influências, mas legou identidade própria para a posteridade. Uma cantora de timbre refinado e interpretação emocionada. Com seu jeito próprio de cantar e emocionar. Isaura Garcia é Isaura Garcia, para quem se aproxima de sua melodia, logo já é Isaurinha.

Mensagem (samba, 1946) – Cícero Nunes e Aldo Cabral
Um imbatível sucesso de Isaura Garcia foi o samba “Mensagem”, de Aldo Cabral e Cícero Nunes, lançado em 1946. No enredo, a história de uma mulher que recebe do carteiro o alento de um antigo amor. “Quanta verdade tristonha, a mentira risonha, que uma carta nos traz, e assim pensando rasguei, tua carta e queimei, para não sofrer demais”, diziam os versos finais da canção que poderiam servir de fundo para o atribulado romance entre a cantora e o pianista e organista Walter Wanderley na década de 50.

Camisa listrada (samba, 1938) – Assis Valente
A camisa presente nas passarelas de rua do carnaval de 1938 foi a listrada de Assis Valente. Nela é possível perceber o desespero da mulher que vê o seu homem desfilar na avenida vestindo suas roupas, sua saia e sua combinação. A música é uma combinação entre alegria e tristeza, e mostra de forma debochada e simples o contraste entre a fantasia do homem que sai para se divertir e a preocupação da mulher que assiste àquilo com ares de repreensão. Aos 19 anos, Isaurinha Garcia ganhou o primeiro lugar de um concurso de calouros promovido pelo programa Clube Quá-Quá-Quarenta, em que cantava “Camisa Listrada” de Assis Valente.

De conversa em conversa (samba, 1947) – Haroldo Barbosa e Lúcio Alves
Lúcio Alves era ainda um garoto quando musicou aos 16 anos “De conversa em conversa”, com letra de Haroldo Barbosa. O samba impressionou Isaura Garcia, que resolveu regravá-lo com o mesmo conjunto que acompanhou Lúcio, “Os Namorados da Lua”, do qual o cantor fazia parte. Em 1947, a personalíssima emplacava mais um sucesso, e dali a seis anos, em 1953 era eleita a Primeira Rainha do Rádio Paulista, configurando-se como ícone musical da cidade.

Teleco-teco (samba, 1942) – Murilo Caldas e Marino Pinto
Um samba de 1942 de letra inspirada, levada gostosa e espírito carnavalesco foi “Teleco-teco”, de Murilo Caldas e Marino Pinto que Isaurinha Garcia cantou com deliciosa interpretação. A música faz referência a um grande sucesso da época, “Praça Onze”, de Herivelto Martins e Grande Otelo, e reflete o desgosto da mulher que não se contenta com as estripulias do marido no carnaval, mas depois de um bom encanto não resiste a seus carinhos.

E daí? (bossa nova, 1959) – Miguel Gustavo
Em 1959 a bossa nova ganhava espaço de vez no cenário brasileiro, e uma das primeiras músicas do gênero foi composta por Miguel Gustavo, com o título de “E daí?”. A temática era um amor proibido que se fortalecia diante das dificuldades impostas. Isaura Garcia a lançava 20 anos depois de ser contratada pela Rádio Record e formar dupla com Vassourinha, um mulato cheio de bossa que se foi cedo para outras folias.

Lido na Rádio Itatiaia por Acir Antão dia 26/02/2012.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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