Hyldon (Soul Music)

Hyldon as dores do mundo

Muita gente desconhece o baiano de pronúncia improvável, radicado no Rio de Janeiro, responsável pela fermentação de ritmo americano em terras tupiniquins, ao lado de Tim Maia e Cassiano. Bolo de influências revolvidas ‘na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê’.

Hyldon é palavra simples, circunflexa, direta como flecha no alvo da matriz Soul Music. São dele os verbos, melodias e batidas de duas das mais repetidas canções dos últimos setembros, primaveris, de retomada, entoadas tanto bêbadas quanto sobriamente, em reuniões de dor de cotovelo e saudade.

“E eu vou, esquecer de tudo
As dores do mundo
Não quero saber quem fui
Mas sim o que sou”

Embora estouradas já na década de 70, época em que foram feitas e registradas pela primeira vez, as músicas que sustentam a avidez de nylon desse compositor talentoso, resgataram-se através do interesse de duas bandas pop pelo mel escondido.

Paula Toller é até o presente momento, indiscutivelmente a voz que canta no ouvidinho da ruralidade perdida os contrastes daquele amor de beira do caminho, estrada, precipício. “Não estou disposto, a esquecer seu rosto de vez, e acho que é tão normal. Dizem que sou louco, por eu ter um gosto assim, gostar de quem não gosta de mim”. Identificação imediata com os bandidos e abonados, todos que presenciem gestos de carinho e afeto mais desesperado.

“Jogue suas mãos para o céu
Agradeça se acaso tiver
Alguém que você gostaria que
Estivesse sempre com você
Na rua, na chuva, na fazenda
Ou numa casinha de sapê…”

Mas o Kid Abelha não foi o único a tirar Hyldon das trevas, injustiça consentida pela indústria cascavel que relega menor espaço àqueles pouco adaptáveis às imposições. O Jota Quest assinou papel importante, praticamente Lei Áurea de libertação que aboliu do calabouço os versos de renascimento e esperança. “As Dores do Mundo”, misto de disposição e ataque de frente à vida.

Pois Hyldon continua, um pouco à margem, um pouco na ribeira, um pouco à chuva, um pouco à dor, imigrante da sua fazenda em que contou, plantou, colheu, sucesso e fracasso, crista da onda e crosta do afogo, “a mão que afaga é a mesma que apedreja”, diria Augusto dos Anjos, e “os fãs de hoje, são os linchadores de amanhã”, endeusa Millôr Fernandes, afinal a rotatividade é extensa, extenuante.

Casinha de sapê

Raphael Vidigal

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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