Entrevista: Terence Machado (Alto-Falante)

“Vaguearemos sonhando com a América perdida do amor, passando pelos automóveis azuis nas vias expressas, voltando para nosso silencioso chalé?” Allen Ginsberg

Alto-Falante

O programa Alto-Falante, comandado pelo apresentador, jornalista e músico nas horas nem tão vagas assim, Terence Machado, completa 15 anos no ar pela Rede Minas e transmissão em âmbito nacional através da TV Brasil, com o lançamento de seu primeiro DVD, em evento realizado no dia 25 deste mês.

Depois de tanto tempo divulgando a música independente no estado, Terence diz que a principal diferença entre 1997 e 2012 é que “ainda vivíamos o auge da indústria fonográfica e sem avanços tecnológicos tão rápidos e circulação de informação instantânea via internet.” Além disso, o processo era mais lento, caro, e penoso, no sentido do alcance em menor escala.

No entanto, mesmo com a mudança dos tempos a favor da proliferação de bandas independentes, nem todas resistiram. “Até as coisas começarem a correr nesse outro fluxo, muitas boas bandas ficaram pelo caminho. Hoje, há espaço para bandas com público médio.” E cita duas bandas de conceitos díspares para exemplificar: “Antes, ou você corria para ser o novo ‘Skank’, ou sobrava. Ser ‘Picassos Falsos’ (independente surgida em 1985) seria missão ingrata demais, mesmo com uma qualidade artística e tanto”, considera.

DVD
A expectativa para o lançamento do DVD é, de acordo com Terence Machado, “que ele cumpra sua única meta, a de promover bem todos os envolvidos, bandas, o programa e o estúdio Ultra, nosso grande parceiro nesse projeto.” A realização do sonho começou com a formatação de um quadro dentro do programa onde as bandas se apresentavam ao vivo e com uma ótima estrutura.

E a continuidade do projeto também está prevista na agenda do apresentador: “Como temos vários outros registros, alguns que não foram nem exibidos na tv, a ideia é levar a ‘Sessão Alto-Falante’ – mote do projeto – à diante, com o lançamento de outros volumes.” A intenção de Terence é produzir no mínimo mais dois DVDs para completar um box com três volumes.

PIONEIRO
Sobre o pioneirismo e importância da atração voltada à produção musical marginalizada, Terence enfatiza: “O Alto-falante foi o primeiro programa da tv mineira a entrar na programação da TV Cultura, com a ‘missão’ de mostrar na grade de uma emissora educativa a boa produção musical que não circula na grande mídia.” O respeito por parte de ao menos duas gerações é motivo de orgulho para o entrevistado, que não esconde certa mágoa ao apelar a um ditado popular: “Somos mais uma prova de que ‘santo de casa não faz milagre’, pois com algumas exceções, bandas e músicos de fora do estado, entre eles figurões como Edgard Scandurra e Lobão, sempre deram mais valor ao programa do que vários músicos mineiros”, desabafa.

Em relação aos novos rumos da música, advindos do crescimento de suportes da internet, Terence opina: “Acho que é simplesmente por uma necessidade de redescobrir como fazer sua música circular”. E questiona a insistência de alguns nomes em velhos formatos: “Já pensou se artistas que alcançaram bastante sucesso, no auge da velha indústria fonográfica, ficassem de braços cruzados, esperando a entrega do próximo disco de ouro? Aliás, os que fizeram isso, sumiram ou estão se arrastando às custas de desgastados êxitos.”

O exemplo contrário também recebe a apreciação do apresentador: “Na contramão disso, bandas como as mineiras ‘Skank’ e ‘Pato Fu’ correram para a internet, criaram novas ações e uma aproximação ainda maior com seus fãs e aprenderam a sobreviver e bem, mesmo distantes das tais ‘milhões de cópias vendidas'”, diz.

FIM DO ROCK
Terence é incisivo ao ser questionado sobre o tão premeditado ‘fim do rock’: “Não e nunca acabará. Ele só muda de endereço e perde a força, para reaparecer, depois, quando menos se espera.”

As bandas de Seattle (entre elas Pearl Jam, Nirvana e Alice in Chains) e as russas do grupo de punk feminista Pussy Riot abalizam a opinião do músico, que prossegue: “Quando tudo parece tranquilo e careta demais, acaba surgindo um Cazuza, um Lobão, um Kurt Cobain ou alguém como o Zakk de La Rocha (vocalista do Rage Against the Machine) pra mandar tudo às favas!”, declara.

E alicerça este argumento a uma nova visão do estilo consolidado por contestação e guitarras elétricas: “Querer que a rebeldia ou uma mudança de parâmetros passe por um pedal de distorção, é que é algo velho.”

Lady Gaga e até Madonna, “que a influenciou”, são citadas como responsáveis por “lampejos rock, na forma de agir.” No entanto, Terence faz ressalvas: “Muitos ainda comungam com a inquietude e loucura de uma Amy Winehouse, ao invés de perderem a força no canto meio estéril de uma Adele”, ratifica.

MELHORES
Terence faz um balanço positivo entre a produção musical do passado e a atual, ao escolher os favoritos nas duas categorias: “Artisticamente falando gosto de um bocado de gente, não só do rock, que trafega no mercado da música dita independente como Los Porongas, Pata de Elefante, Mechanics, BNegão, Curumin, Fábio Góes, Transmissor, Pública, Renegado, Autoramas e muitos outros, e, claro, os craques históricos, The Beatles, Jimi Hendrix, The Rolling Stones, Queen, Elvis Presley, Chuck Berry e Pink Floyd”, enumera.

Terence Machado

Raphael Vidigal

Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 18/11/2012.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

11 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]