Entrevista: Sergio Roberto de Oliveira se destaca na música erudita brasileira

*por Raphael Vidigal

“ah, a felicidade corteja a luz, então acreditamos que o mundo é alegre; o sofrimento esconde-se à distância, então supomos que não haja sofrimento.” Herman Melville

Sergio Roberto de Oliveira é nome comum, solto, desconhecido do grande público. E assim deve permanecer nos próximos anos. Isso se compararmos ao alcance em massa de nomes como “Xuxa e Roberto Carlos“. É ele próprio quem cita. Mas avisa: “Da mesma maneira, eles não alcançam a profundidade da música de concerto”.

Indicado ao Grammy Latino nas edições 2011 e 2012, nas categorias ‘Melhor Composição Clássica Contemporânea’ e ‘Melhor Álbum de Música Clássica’, o compositor, que comemora esse ano quinze anos de carreira, resolveu fazer um apanhado de toda a obra, e reunir, num box com quatro discos, “alusivos aos elementos fundamentais: água, ar, terra e fogo”, um pouco de tudo o que o compõe, como define o subtítulo do trabalho, “Quinze”.

CRIAÇÃO
Sobre o processo de criação, que passa por nomes como Fidel Castro e Heitor Villa-Lobos, com uma parada providencial para debruçar-se sobre poemas próprios e de Mario Quintana, Sergio conta ser “uma pessoa absolutamente normal, que gosta de andar de chinelo, tomar cerveja, jogar bola no final de semana e torcer para o Flamengo”.

O que o instiga a compor uma canção é, quase sempre, “a vontade de contar uma história, uma observação do mundo. Quando vou colocar as notas na partitura, costumo dizer que a música já está pronta”, reflete animadamente. Acompanhado por amplo cartaz de convidados, como Quarteto Radamés Gnattali, Duo Santoro, Luis Carlos Barbieri, entre outros, a empreitada privilegia músicas autorias e em parceria com Paulo César Feital.

SOBERANIA
O entrevistado faz um balanço a respeito do espaço concedido à música erudita na sociedade brasileira e diz que “ele diminuiu. Nesse sentido, andamos para trás nos últimos 20 a 30 anos”. No entanto, as previsões soam mais otimistas. “A música de concerto é parte da soberania de um país. É ela quem pensa a estética, as inovações, inclusive no que é utilizado por músicos populares. Não podemos abrir mão disso. Público há, falta oportunidade”.

A prova dessas palavras, para Sergio, está no aumento substantivo de sua plateia, desde que foi indicado ao Grammy e começou a ser requisitado pela imprensa. “Em tempos cada vez mais apressados, muita gente está em busca de reflexão, e isso está na música erudita. Uma das vertentes do meu trabalho é ampliar o interesse das pessoas”.

FUTURO
A tendência atual da música brasileira, aponta, segundo Sergio, para “a prevalência do entretenimento sobre a cultura, o pensamento, a reflexão. Coisas rápidas e fáceis tem encontrado abrigo em maior quantidade”.

Nada que o faço desanimar de lançar-se em novos projetos. Para o ano que vem, estão previstos CD com o grupo de câmara do Rio de Janeiro “Gnu”, para Sergio, um dos “melhores do país”, outro com a atriz e cantora Gabriela Geluda, além da propagação do clipe ‘Ao Mar’, música presente num dos álbuns que compõe ‘Quinze’, dirigido por Alex Araripe.

“Estou interessado em compor canções que modifiquem as pessoas, tragam a dimensão da espiritualidade. Nenhum artista trabalha almejando um prêmio. A arte é somente expressão de sentimentos urgentes. Por isso, a indicação ao Grammy é um reconhecimento surpreendente e maravilhoso”, conclui.

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Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 25/12/2012.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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