“Trememos com a violência do conflito que está sendo travado dentro de nós, o combate entre o definido e indefinido, a batalha da substância com a sombra. Porém, se a luta chegou a este ponto, lutamos em vão, porque a sombra triunfará.” Edgar Allan Poe
Os debates programados para o evento “A Política da Psicanálise – Na Era do Direito ao Gozo”, que acontece na capital na sexta-feira (26) e no sábado (27), no Espaço Cultural CentoeQuatro (praça Rui Barbosa, 104, Centro), também abrirão janelas para a cultura.
A presença do cientista político e escritor Luiz Eduardo Soares é um exemplo. Um dos coautores do livro “Elite da Tropa” (que se transformou no sucesso cinematográfico “Tropa de Elite”, de José Padilha) é o mote não apenas para abordar os temas consumo de drogas e violência, mas também para apresentar sua mais recente investida no mercado editorial: “Tudo ou Nada” (Nova Fronteira).
“No livro, o protagonista, Lukas Mello, depois de cruzar oceanos num veleiro durante dez anos, envolve-se com traficantes internacionais e cumpre 12 anos de pena, metade em penitenciária de segurança máxima na Inglaterra, metade em Bangu”, diz o autor. A história, vale lembrar, foi inspirada em fatos reais, no caso, envolvendo Ronald Soares.
Cinema & Teatro
As especulações de que “Tudo ou Nada” vá se transformar em filme ainda não são confirmadas pelo entrevistado: “Há conversas em curso, mas nada acertado. No entanto, haverá, sim, uma adaptação para o teatro, que escrevi e que será montada por Marcus Vinicius Faustini, no Rio de Janeiro, no início de 2013”.
Teatro que foi, aliás, o campo onde começou a carreira daquele que é hoje um dos mais aclamados especialistas em segurança pública do país, tendo participado dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Anthony Garotinho: “Minha formação inicial, na graduação, nos anos 1970, foi literatura. Desejava viver de literatura e teatro. No entanto, vivíamos uma ditadura feroz e criminosa. Amigos meus foram torturados e mortos, enquanto a censura castrava a cultura e amordaçava a mídia”.
Na época, Soares teve como parceiro, na escrita sobre dramaturgia, o consagrado Domingos Oliveira. Também participou do lendário grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, revelador de talentos como Regina Casé.
A participação de Soares na XVII Jornada acontece na sexta-feira, durante o I Fórum de Orientação Lacaniana, na sala do piso superior, e dentro da conversação “Drogas: Para Além da Segregação”, que começa às 15 horas.
Música e instalações constam da programação
A mudança de rumo na trajetória de Luiz Eduardo Soares pode parecer algo inusitado, mas o cientista político a credita a uma “obrigação social”. No entanto, reitera que a guinada nunca aconteceu por inteiro. “Como havia muitas visões político-ideológicas distintas, no campo da resistência à ditadura, me senti incapaz de uma decisão racional, assentada na convicção madura, com base no conhecimento da história mundial e da sociedade brasileira”.
Foi assim que chegou à Antropologia. “Troquei o teatro e a literatura pelo engajamento político e a militância. Descobri a superioridade do socialismo democrático e do pacifismo, nunca mais larguei as ciências sociais e construí uma carreira de mais de 35 anos na docência universitária. Mas nunca abandonei a literatura e o teatro”, frisa.
Em relação à demanda do mercado em propagar os temas recorrentes em sua obra, a resposta vem de prima: “O interesse é grande porque esses temas se cruzam em nossa realidade, fazem parte de nossas vidas”, avalia.
Música & Museu
Além da presença do escritor, outras atrações prometem agitar o evento com estímulos artísticos, como alicerça a coordenadora e psicanalista Fernanda Ottoni: “Haverá um show de encerramento com a cantora espanhola Irene Atienza e o violonista brasileiro Douglas Lora. Eles se apresentam pela primeira vez no Brasil como um Duo” declara.
No âmbito da plasticidade, duas exposições advindas da “Mostra de Arte Insensata”, que este ano contou, no mesmo CentoeQuatro, com a presença de Jorge Mautner. “É um recorte da mostra, com as instalações ‘Empresta-me seus olhos?’ e o ‘Museu Interior’, sala composta por diversos objetos do cotidiano sob a luz da vivacidade, como uma xícara ainda em uso ou um livro aberto e iluminado, uma coisa que transmite força e intimidade. É impressionante”, finaliza Ottoni.
Raphael Vidigal
Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 25/10/2012.
Fotos: Bruno Veiga e Divulgação.