Crítica: música do “Tao do Trio” desfia harmonia celestial

“desculpe a hora
em que vim lhe acordar
É que o sol
vem tingindo de ouro
a barra do mar” Lydio Roberto & Etel Frota

capa-taotrio

Antes de dizer, já sabemos. Que Etel Frota é poeta. Que a música é de Curitiba. Essa evocação celeste que permeia todo o disco do “Tao do Trio”, formado por Suzie Franco, Fernanda Sabbagh e Cris Lemos, e que se dedica inteiramente pela primeira vez ao cancioneiro de uma mulher, permite-nos aferir conjecturas que vão além do visto, pois sobrepuja alguma coisa do instinto. É de se sublinhar a intimidade com que as vozes nos laçam logo à primeira ouvida. Por isso lhe percebemos o sotaque “terreiro e universal”. “Flor de Dor” capta em harmonias delineadas por Vicente Ribeiro, responsável pelos arranjos e a direção musical, o lirismo de uma poetisa que trama suas histórias.

A lírica de Etel Frota caminha entre Chico Buarque e Fátima Guedes, mas como nos ensina o professor o cotejo nem sempre é a melhor via para apresentarmos a obra, tentemos, pois, pela própria escrita em cena. Da canção em parceria com Rubens Nogueira surge a ode aos “Três Irmãos” de sangue; Betinho, Henfil e Chico Mário, numa singela homenagem que acerta o tom em cada palavra, sempre precisa, nunca fora de foco nem excessivamente derramada. Etel contém o leite antes que ele se esvaia, tal qual deslizam pelas imagens sonoras as três vozes harmônicas que, vez por outra, também recebem convidados. Seja na brincadeira com a Luísa de Tom Jobim, inventada com Luis Felipe Gama; ou nos belíssimos “Quatro Acalantos”, feita em duo com Angel Roman; trasborda desse trabalho uma condição de anjos, que não pisam em cantos, mas que por eles são levados, e nos levam juntos.

taodotrioetel

Raphael Vidigal

Imagens: ilustração de Miriam Fontoura; e fotografia por Lina Faria, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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