Crítica: exposição “Segredos do Egito” elucida contradições de uma civilização

“O homem move um dedo. Devagar e com cuidado, ele move um dedo para pegar uma gota de mel. Ameaçado por tantos perigos, e amedrontado por ver a morte por todos os lados, ele ainda não era livre do desejo. O desejo pelo mel o manteve vivo.” Krishna Dvapayana Vyasa

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A exposição “Segredos do Egito”, apresentada gratuitamente em shoppings de quatro cidades brasileiras, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Ribeirão Preto, elucida as contradições de uma das civilizações mais fascinantes da história da humanidade. A obsessão pela beleza e pela morte pode ser conferida de perto tanto nos mínimos detalhes de precisão artesanal quanto no desenvolvimento da ciência e das questões matemáticas que conservou corpos e elevou pirâmides até hoje indestrutíveis antes mesmo das nomenclaturas “medicina” e “engenharia” ocuparem os dicionários.

O misto entre fantasia e realidade condensa toda a cena, de uma exuberância sem fim na ostentação do ouro, das pedras preciosas, dos papiros e dos desenhos minuciosos. É inegável o talento dos egípcios para a arte, não à toa eles influenciaram um dos grandes nomes da pintura austríaca e mundial, o simbolista Gustav Klimt. O tom de mistério, petrificado nos olhares dos deuses, e especialmente da esfinge corroboram para a ludicidade da exposição. As construções suntuosas de época aparecem em miniatura, e nem por isso perdem a imponência, ao contrário.

Brilho e luz só são ofuscados quando a galeria destinada às múmias e aos sarcófagos salta aos olhos e estremece aqueles que menos temem ao diabo. O impressionante processo de conservação dos corpos e a necessidade espiritual de contemplar a matéria parecem distantes da primeira parte da exposição, onde a vida é rechonchuda e rechaça qualquer plano de finitude. No entanto, todo o volume de água desemboca nesta represa. Lá o homem egípcio tenta dialogar com os deuses, os mortos, para suportar a vida e amadurecer a ideia de morte. Que já não brilha, mas treme ainda.

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Raphael Vidigal

Fotos: Renata Ribeiro e divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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