Crítica: Exposição de Fernando Botero retira beleza do improvável

Fernando Botero abusa das formas redondas

*por Raphael Vidigal

“Desde então a tive na memória com tamanha nitidez que fazia dela o que queria. Mudava a cor de seus olhos conforme o meu estado de ânimo: cor de água ao despertar, cor de açúcar queimado quando ria, cor de lume quando a contrariava.” Gabriel García Márquez

É possível dizer que o colombiano Fernando Botero é um artista tão típico quanto foi o italiano Modigliani. Se neste prevalecia a estrutura lânguida no atual predomina a rechonchuda. Uma das marcas de Amedeo era a opacidade dos olhos, enquanto em Fernando é da presença que resulta a falta. Embora estejam lá são olhos distantes, ausentes, tristes, reflexivos ou concentrados, imersos em um circo de cores e na abundância das formas. Botero pega modelos comuns, em cenas banais, cotidianas, e com olhar específico para camadas menos abastadas da sociedade colombiana e torna-as absolutamente incríveis, no sentido de não poder acreditá-las, pois, a exemplo do que pregou o teatro dialético de Brecht é do não-realismo que o real nasce.

A tipicidade de Botero, como em Modigliani, consiste em que, para além da temática, permanece a forma e a palheta de cores. Seja para compor o busto de um animal ou humano, independente de sexo, idade ou ofício, nessa composição todos se irmanam. Vale para quadros e esculturas. Afinal de contas há algo de comunhão, de trazer à tona o que torna iguais todos os diferentes, não só na hora da morte, como também nas tintas de Fernando. A diversidade traz na raiz seu ponto de encontro, donde a tolerância surge. Pois se esteticamente a esta técnica será atribuída o estilo de Botero, o conteúdo tem ainda mais a dizer aos de sua geração e posteriores, sem a inocência de acreditar que uma exista sem a outra. O choque acontece ao vermos nossa beleza no improvável, nesta conciliação da exuberância com o olhar diário.

Serviço
Exposição Fernando Botero – Pintura, escultura e desenho
Data: 5 de agosto a 27 de novembro de 2016.
Local: Museu Inimá de Paula (Rua da Bahia, 1201, Centro) – 1º andar.
Horários: terça, quarta, sexta e sábado das 10h às 19h.
Quinta, das 12h às 21h; Domingo das 12h às 19h. Entrada franca.

Botero criou marca indistinguível na história da arte contemporânea

Imagens: Obras de Fernando Botero.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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