Crítica: Espetáculo de dança da Cia. Mimulus, “Por um fio” produz encanto e riso

“Eu não investigo como as pessoas se movem, mas o que as move” Pina Bausch

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Com passagem por Itália, Bélgica e França o espetáculo “Por um fio”, da companhia de dança Mimulus, se propõe a interpretar sentimentos a partir da experiência do artista plástico Arthur Bispo do Rosário, que viveu recluso por mais de 50 anos na Colônia Juliano Moreira, um instituto psiquiátrico do Rio de Janeiro da década de 40, acusado de loucura por se considerar um enviado de Deus. Fato é que o homenageado produziu beleza através da dor, do sofrimento e do que era lixo para outras pessoas, assim como os dançarinos evocam luz e brilho através dos fios, da escuridão, movimento pela pausa e encanto que parte dos corpos de memória, silêncio e som.

No entanto, ainda que subverta a lógica de fios que não estão ali para aprisionar, mas sim para libertar os indivíduos, como quando a música se funde nas linguagens de Carlos Careqa e Adoniran Barbosa, o ruído incômodo mescle-se a obras clássicas, Wally Salomão declame poemas cheios de um confuso lirismo, e por aí, ele nunca rompe com a tradicional forma de condução, pelo contrário, reforça o papel do homem como detentor do desejo e vontade a que as mulheres como marionetes são submetidas com tristeza, graça ou indiferença. Com uma narrativa intrincada e sinuosa a única constância é o corte, o rompimento e um começo novo a cada iluminação.

O leque dos bailarinos, das bordadeiras, do alfaiate é aberto de modo a capturar a teia, a abelha, a aranha e o marimbondo, do baião ao grito puro, de Chopin a Caetano Veloso, em inglês, português, vento, música eletrônica, samba de morro, voz de velha e de novo. Para traduzir em palavras o signo dos corpos um importante aliado é Zeca Baleiro, que soa claro na recitação dos versos, ao lado de Zé Ramalho, a fim de instituir o deboche, derrubar a gravidade e aclamar a risada ao público, que logo recebe o encanto de volta, no encontro dos limites entre casais, distâncias, vida, natureza, morte. Está tudo por um fio, tão elétrico quanto de cobre, mel, metal, candura.

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Raphael Vidigal

Fotos: Guto Muniz.

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6 Comentários

  • Raphael Vidigal, olha aí seu trabalho reconhecido! 🙂 e ajudando a reconhecer outros trabalhos tb!

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  • Oi, Raphael, obrigada pela sua atençao. Vou pedir para a Fabiana postar na pagina da Mimulus lá seu trabalho será visto e admirado por numero muito maior de pessoas. E parabéns pelos seu olhar e escrita e votos de muito sucesso. Apareça uma hora dessas para um cafezinho. Bjk

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  • Eu descobri o texto por que ele foi compartilhado pela baby mesquita, que é a diretora da mimulus, resolvi ler e achei muito bom, e que identifica bem a proposta do espetaculo por um fio, na verdade como é bem contemporaneo se a pessoa nao pesquisa antes ela nao consegue entender bem a proposta.

    O credito é todo seu o texto ficou muito bom

    Resposta

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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