Crítica: “De Tempo Somos – Um Sarau do Grupo Galpão” celebra vida no teatro

“sou um rio de palavras/peço um minuto de silêncios
pausas valsas calmas penadas/e um pouco de esquecimento
apenas um e eu posso deixar o espaço/e estrelar este teatro
que se chama tempo” Paulo Leminski

De Tempo Somos celebra trajetória do grupo Galpão

Embora pareça em alguns momentos uma banda o Galpão é eminentemente um grupo de teatro, provavelmente o mais bem sucedido do país, referência interna e no exterior. A capacidade de se embrenhar nas raízes – ao partir em turnê, por exemplo, pela região do Vale do Jequitinhonha – e, ao mesmo tempo, aguçar o olhar para o estrangeiro configura uma das riquezas presentes entre os valores da companhia, que aparece com vigor nesta montagem. “De Tempo Somos – Um Sarau do Grupo Galpão”, nada mais é do que uma celebração da trupe à vida no teatro. Pois o teatro é a vida do Galpão. Com uma dramaturgia simples, atores e atrizes, que se revezam como instrumentistas e intérpretes musicais em cena, transmitem com calor as emoções que se estabelecem, criando um vínculo sincero com a plateia e, novamente, afirmando um de seus valores mais caros. Tudo por que, fora a intimidade com os versos e as canções selecionadas, a elaboração é teatral, e ao optar por esse prisma, justamente a essência do grupo, a afetividade que marca as escolhas ressoa de maneira ainda mais pertinente em cena. Principalmente por que o clima de diversão no palco estende-se a todo mundo. Temos aqui um interessante recurso dramatúrgico, em que cada personagem é construída em cima da personalidade do intérprete, e não o contrário.

A dramaturgia, embora simples, dá conta de seu intento pela acuidade da direção, cirúrgica, que garante aos mínimos movimentos uma coesão prenhe de significados. Capricho que também aparece na iluminação, outro trunfo fundamental da montagem, que é acompanhada com igual correção por figurino e cenário. Já a música é mais do que um elemento cênico, pois está ali, literalmente, para contar a história do Grupo Galpão. Com a liberdade que sempre acompanhou os seus passos o grupo se deleita ao percorrer os caminhos da comédia, do romance, da saudade, do manifesto e de todas as causas e sensações que condoem o peito daqueles que escolheram se expressar através da arte. No momento em que comemora 35 anos de estrada nosso mais famoso grupo de teatro de rua – que também soube migrar e se adaptar a outros tipos de palco sem abrir mão de suas características principais – pretende continuar festejando, ao reencenar várias peças de seu repertório. Pois a despeito de tudo o sarau do Galpão celebra o hoje, fruto do passado, gérmen para o amanhã. É um incentivo e uma inspiração para a vida de todos. Que venham os próximos capítulos, tristes ou felizes, para eles haverá o teatro.

Ficha técnica
Direção de Lydia Del Picchia e Simone Ordones.
Direção musical, arranjos e trilha sonora de Luiz Rocha.
Pesquisa de texto de Eduardo Moreira.
Com Antonio Edson, Beto Franco, Eduardo Moreira, Fernanda Vianna, Lydia Del Picchia, Luiz Rocha, Júlio Maciel, Paulo André e Simone Ordones.
Atriz curinga: Inês Peixoto/Voz em off: Teuda Bara/Iluminação: Rodrigo Marçal/Figurino: Paulo André/Preparação vocal: Babaya/Preparação corporal: Fernanda Vianna/Revisão de textos: Arildo de Barros/Assessoria de iluminação: Chico Pelúcio/Assessoria na cena “a carteira”: Diego Bagagal/Design sonoro: Vinícius Alves/Aulas de percussão: Sérgio Silva.

Grupo Galpão de Teatro comemora 35 anos de estrada

Raphael Vidigal

Fotos: Guto Muniz.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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