“Mundaú! – soube depois
que quer dizer rio torto.
Quem te inventou Mundaú, das minhas lavadeiras
seminuas, dos meus pescadores de traíras? –
Mundaú! – rio torto – caminho de curvas,
por onde eu vim para a cidade
onde ninguém sabe o que é caminho.” Jorge de Lima
Andar sozinho não é andar separado, assim como guarda diferenças com o estar em conjunto. Há quem sugira até o deslocamento proverbial, quando afirma que “antes só do que desacompanhado”. Logo, a percepção de que o estar supera o estado aparente das coisas, extrapola a condição exposta. Pois a mortal função da arte é propor a liberdade ou, ao menos, alguma libertação. Aldo Barreto, em sua estreia solo, apresenta disco de caminhos, em que os movimentos se fazem sentir e notar com expressividade, sobretudo pela qualidade rítmica que o passado e ainda presente e futuro de baterista do artista imprime às telas que pinta. Sim, são telas, pois perpassadas de imagens que servem tanto de metáfora quanto para descrições do ambiente. O que dá unicidade ao álbum “Marangê” é justamente sua identificação com a natureza.
Afinal a coesão termina aí. Aldo aposta, com galhardia e coragem, na diversidade. Seu álbum percorre diversas trilhas, e torna, assim, a aventura inconstante. Não é possível se acostumar com certo tom, certa bruma, e muito menos certa melodia, certo ritmo, antes que isto aconteça a invasão de outra estrutura, cores e luzes toma o quadro. São 14 faixas em que Aldo, por revelar-se múltiplo, passe, talvez, a impressão de que se esconde. Mas não, ao final percebemos, por mais que pretensiosa seja a constatação, que Aldo é, sobremaneira, um artista de origem, mais do que de raiz, e que seu universo se irmana a aflições tão comuns quanto, por isso mesmo, passíveis de fácil assimilação. Mais do que romântico, o ritmo do coração de Aldo Barreto soa melhor quando no canto dos mares, pássaros e até nas pedras desse caminho.
Raphael Vidigal
Fotos: Divulgação.