“Mãe dos jogos latinos e gregas orgias,
Lesbos, dos beijos lânguidos e dos fogosos,
Ardentes como sóis, frescos quais melancias;
São o ornato das noites e dias gloriosos;” Baudelaire
Num quadro satírico o comediante Agildo Ribeiro o apresenta como “um dos raros brasileiros alegres desse país”. Clóvis responde com bom humor, sua principal característica. Museólogo por formação e folião por farra, Bornay foi personagem carnavalesco fundamental na transição da música para a fantasia, dos adereços sonoros para os visuais, embora não tenha feito feio como intérprete de deliciosas e maledicentes marchinhas, tais como “Vamos furunfar”, “Dondoca” e “Fla Gay”, e como jurado de Chacrinha e Silvio Santos. Foi partícipe e emblema maior da tal “Cultura da Imagem”, fundada, sobretudo, nas aparências. Tanto que o diretor do “Cinema Novo” Glauber Rocha o utilizou no filme “Terra em Transe” para dar conta desse caráter alegórico.
Clóvis Bornay representou a elite carioca em seus anos dourados, as décadas de 1950 e 1960, quando instituiu e idealizou o Baila de Gala do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cópia do modelo europeu celebrizado em Veneza, e que revelava outra característica dessa classe dominante economicamente na nossa sociedade, a de refutar traços culturais trazidos pelos povos nativos e escravos e adorar aos colonizadores, tanto portugueses quanto espanhóis, holandeses e italianos. Caricatural, moldou a imagem clássica do nosso homossexual, o gay afetado que sabe rir de si mesmo. Foi, em suma, toda a superfície, no que ela tem de exótica por descabida, cafona pelo exagero. Uma elite para quem frente às luzes é carnaval o ano inteiro.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo e Divulgação.