Beethoven (Música clássica)

“o sonho louco de Beethoven com seu egoísmo, a perfeição e o equilíbrio de Bach e Mozart, a explosão da tonalidade pelo lado da extremidade dos acordes através de Debussy e pelo lado interno do acorde através de Wagner. (…) Nesses lugares, quando você faz o primeiro tartamudeio é como se a gênese acontecesse de novo.” Tom Zé

Música clássica

Uma vida romântica. Só queria uma vida romântica. O homem cinza, dentro de si: a Música resplandecente; Majestosa. Movimento dos contrastes, dos instrumentos, das cachoeiras, dos sons, da Vida & Morte. Ensaio. Uma vida romântica. Só queria, uma vida romântica.

Chega a ser inacreditável a Tua Morte. Surdez da alma; suicídio. Exuberância e melancolia mastigando Agonia. Começo a escrever sobre um Beethoven ensandecido, transtornado, furioso, rasgando folhas de partituras e berrando aos céus por clemência.

Sobressaltam-me Ímpeto e Medo. Ela não veio, a Música. Veio a Clemência. Beethoven pediu, e Deus cedeu. Deu-lhe o atributo da Eternidade. Enquanto a Música, instrutiva, calava-lhe nos ouvidos. Nunca Ouvir. Escutar. O que ele próprio dera à Vida. O que fora ele próprio que dera Vida.

E de agora em diante até o fim dos dias somente a Morte e o Silêncio. A Música infinda chegou ao fim na sua cratera sulfurosa. Alagada por montes e goles de necessidades, paixões absortas num corpo entroncado, espesso, tenro, terno. Tronco duma árvore que tenta desprender-se da enchente, pois não entende nem sabe haver, as raízes lhe prendem na superfície.

Choro convulsivo. Tens vontade de enterrar-se no buraco fundo e tenebroso da Miséria reconciliadora. Aviltada em sua essência biltre, a ave de rapina tem por que cortar as próprias asas, cerrar os olhos. Mas o homem e sua Consciência e seu eterno Medo da Ignorância, não o admitem.

Desiste calmo caindo (não jogando) ao chão. Desmantelado como as fechaduras que travam a sete portas o Castelo de Aço e Ferro, protegido o Perfume Arco-Íris das 7 Notas Musicais.

O que assusta o Gênio de Beethoven? A Insensatez da Vida frente à Loucura Musical? Qual delas a Mais Irrestrita? Abonada? Transcendental? Imagens bíblicas em acrílico impressas em papel jornal. Partituras. Partes, cruas, não, só, pó, poesia, concreta. Uma pequenina lagartixa me assusta.

Surge o final feliz de Beethoven, ainda segurando com o braço cansado, amolecido, torturante, o galho da árvore que o impediu de afundar na Inquietude moribunda dos que desistem e parte. O Gênio de Beethoven. Olhar ameaçador do homem que chantageia a Existência.

O Gênio com teu Poder. O Gênio com tua Música. O Gênio com tua Arte Tem O Poder de suspirar ao mundo e ensaiar o Adeus, malogrando-o, maldizendo-o, deixando-o de boca aberta à espera da desistência. Do triunfo suntuoso e abrasador.

Não faça isso, tenha pena. Ele abraça a Dor. Sacuda-nos. Ele abraça a Dor. Mas não nos deixe Trêmulos e Covardes (quais cordas de tua Viagem) a implorar a Tua permanência. Chega a ser inacreditável a Tua Morte.

Pois permanece o homem de cabelos ledos sacudidos sobre a face de temor e tragédia, Tragédia e Temor. Ambas solitárias. Quão solitário é o homem desse coração. E o coração desse homem.

Erguem-se da neblina, pois, as mãos: salvador ou salvo? Conservam tez morena, avolumadas, em riste os dedos disparam. Vertigem. Entulho e escombros. Nos ombros, o peso do barulho apagado.

Vingue Nona Sinfonia: todos os nossos sofrimentos pertencem ao prazer.

Beethoven música erudita

Raphael Vidigal

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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