“As lágrimas do mundo têm uma constância imutável. Assim que um acaba de chorar, em algum outro lugar outro começa. É a mesma coisa com a risada. Portanto, não vamos falar mal de nossa época; ela não é pior que as anteriores. Mas também não vamos falar bem dela. Não vamos falar nada.” Samuel Beckett
Nas últimas semanas Marcelo Adnet e Fábio Porchat estrearam programas de entrevista e – vá lá, – variedades na televisão. Júlia Rabello estreou atração que se pretende misto entre realidade e ficção. Já no caso de João Gordo foi uma reestreia, de volta à condição de entrevistador em rede televisiva, ele que, nos últimos anos, além de um programa de rádio, seguia comandando o modelo, porém na internet. Tatá Werneck, também humorista, teve tal experiência ao lado de Porchat, sob o simbólico título de “Tudo Pela Audiência”, em que o motivo do deboche era o próprio veículo. Afinal de contas, com toda a ascensão da internet a TV ainda atrai mais espectadores, ao menos em números brutos. Mas eles nem sempre fornecem toda a verdade.
A vantagem da internet é a chamada capacidade para produzir conteúdo de nicho, já que existe uma ação mais determinada e específica do interlocutor. Razão pela qual o humor também muda. João Gordo com seu “ELETROGORDO”, pela primeira vez no Canal Brasil, mantém a mesma persona que o tornou famoso ainda nos tempos de MTV, claramente pelo fato de que a afiliada a cabo da Rede Globo tem por genética permitir tais liberdades, haja vista possuir em seus quadros nomes como Michel Melamed, Laerte, Nasi, Rogéria, Angela Ro Ro, Paulo César Peréio, Jorge Bispo, Rogério Skylab, Paulo Tiefenthaler, Zé do Caixão, Domingos Oliveira e Paulinho Moska, apenas para ficar naqueles que recentemente estiveram ou permanecem no ar.
Possibilidade essa não acessível aos que se encontram na TV aberta, caso claro em que o suporte afeta o conteúdo não por questões formais ou técnicas, mas, sim, por uma suposição e escolha moral. Esta identidade ética também é notada em canais fechados, como o GNT em que Júlia Rabello apresenta agora o “De Perto Ninguém É Normal”. As diferenças percebidas no humor destas mesmas personagens quando em plataformas que guardam pouca similaridade, a não ser pela transmissão de conteúdo audiovisual, parece ter a ver, sobretudo, com a cultura de massa que ainda rege grande parte da nossa tradicional televisão, e a cultura de nicho, um tanto ou mais à vontade por não sentir-se reprimida, afinal fala com os seus, presente na insipiente e pouco afeita a restrições, internet. O tempo dirá qual riso surtirá efeito por mais tempo.
Raphael Vidigal
Imagens: Montagem com fotos de João Gordo, Tatá Werneck, Júlia Rabello, Marcelo Adnet, Fábio Porchat e Dani Calabresa, da esquerda para a direita; e cartum de Ziraldo, respectivamente.
1 Comentário
Opa, tudo bem? Parabéns pelo post e pelo site! 🙂