Artigo: fim do Ballet Jovem Palácio das Artes é tiro no pé

“Naturalmente, existem situações que deixam você sem palavras. Você tem apenas uma noção das coisas. Também as palavras não ajudam muito, elas apenas evocam as coisas. É aí que entra a dança.” Pina Bausch

Dança-Palácio-das-Artes

O encerramento das atividades do Ballet Jovem Palácio das Artes pertence ao comboio que também determinou o fim da Big Band Palácio das Artes, do Grupo de Choro Palácio das Artes e do Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Medidas que desalentam os que acreditaram num governo mais preocupado com a cultura, o primeiro do PT no estado. Se esse foi o motivo do choro de Fernando Pimentel na posse, o certo é que abre-se uma orfandade cultural em Minas Gerais e Belo Horizonte.

Cada um dos projetos encerrados tinha sua importância referendada por casas lotadas, prêmios recebidos, prestígio junto a público e crítica. O Grupo de Choro dava conta de uma velha guarda, da preservação da história, da memória. Já o Ballet Jovem era fundamental na formação de novos bailarinos, muitos bolsistas, e representava o sonho, a esperança, a perspectiva, como na educação de base, não um paliativo para o profissional já maduro, entre virtudes e vícios, mas justamente o que mais se discute no Brasil, em todos os seus problemas amplos de saúde, educação, transporte e segurança: a raiz, o início.

É impossível precisar da onde surgiu a expressão “tiro no pé”. O Brasil é um país farto em ditados, muito em razão de sua cultura ter se criado com força nas camadas populares, no misto de influências indígenas, africanas, europeias e asiáticas. Pois qualquer um sabe o que ela compreende, qual a significância. Como um “cão chupando manga”, essa imagem forte entre o histriônico e o escracho. Pode-se também dizer que o “tiro ás vezes sai pela culatra”. Para um político, e essencialmente o homem público, é natural observar o seu legado, a imagem a ser cristalizada após o fim da empreitada, e em alguns casos, das empreiteiras.

Não é segredo para ninguém que Fernando Pimentel pertence à ala do Partido dos Trabalhadores mais próxima do PSDB, que ajudou, numa aliança íntima com Aécio Neves, a eleger placidamente Márcio Lacerda, a babá que nenhuma criança deseja. Movimento tão agudo quanto aquele que procurou e conseguiu sufocar Patrus Ananias, que se sujeitou à humilhação de compor uma chapa com Hélio Costa, o que o isolou de vez nesse ambiente já inóspito. Essa será a lembrança ligada à imagem de Fernando Pimentel. Se o choro da posse foi sincero, possivelmente por vaidade. Se foram “lágrimas de crocodilo”, não espanta frente à espécie. O certo é que dá um tiro no pé ao encerrar o Ballet Jovem, o que pode ser muito perigoso, especialmente num pé bailarino.

ballet-jovem

Raphael Vidigal

Fotos: Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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