Artes Plásticas: De Chirico

“Estou tateando a ogiva de um amor sem matéria.” Araripe Coutinho

Giorgio de Chirico

Para quem fuma a escada é pesada, bruto. Faz-se poesia com o chão, encerador e marcenaria. “E o que devo amar senão o enigma?” pergunta meu Giorgio de Chirico. Meu, intransferível, concreto, posse, escapa como tudo onde é possível deitar as mãos, arquitetura das águas.

Conceda-me essa prevalência, num habilidoso circunflexo de palavras, cacoetes e cocurutos. Criaturas estranhas: unicórnio, sereia, saci, minotauro. Tutano, taciturno, boto. Tremula a bandeira no alto as ruínas da Grécia, Líbano, afegãos e banidos, pleonasmos e hipérboles. Prefiro me abster das coisas aquelas farão com que desista, de você.

Embora saiba, delas há, e mesmo irrelevantes. O amor é um sinal, uma trombeta tocada não por anjos, mas um parrudo elefante. Escadinha pra subir na árvore, imóvel, respira morte. Apenas almejo socorro.

Ia ganhando anos na medida em que registrava acontecimentos e: vida. Ganhava e depois perdia.

A estrada é belíssima. A vida – é sempre de surpresa. Prima morte, previsível. No entanto a foice assusta bem mais que o enigma. Quantos fantasmas nos quartos dimensionados através de cortinas periféricas? Quando o coração do tempo mora no sofrimento.

De tepidez, tenacidade, e abrigo, e expulsa a cidade o próprio fígado. Mas sinto como ele ainda estivesse em mim no curso interminável lhe envolver e cair nos seus entre os meus abraso. Calúnia e credo, camufla e vergo, casulo ou cesto, entregam cores selvagens e formas quentes.

Pois eu disser pensar sorrir “amor” vou escutar em resposta: teu: nome. A gente esquece, entontece a palavra para mal-dizê-la, para não dizê-la, para não cansar: coragem sem rosto, apenas um manequim do açoite.

De Chirico

Raphael Vidigal

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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